Page 227 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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olhar para ela o confundia bastante. Mas percebeu que, apesar da largura conservadora do seu
  vestido, o seu corpo esplendia através de sua roupa com sensualidade. E percebeu também que a
  sua pele escura ficava vermelha, a pele cremosa escura, tornando-se mais escura à medida que
  o sangue lhe afluía ao rosto.
    Finalmente Michael ergueu-se para ir embora e a família levantou-se também. Despediram-
  se  formalmente,  a  garota  afinal  enfrentando-o  quando  se  apertaram  as  mãos,  e  ele  sentiu  o
  choque da pele dela contra a sua, a pele dela era quente e áspera, pele de camponesa. O pai
  desceu  o  morro  com  ele  até  o  carro  e  convidou-o  para  jantar  no  domingo  seguinte.  Michael
  acenou  com  a  cabeça,  mas  sabia  que  não  podia  esperar  uma  semana  para  ver  a  garota
  novamente.
    Não esperou. No dia seguinte, sem os seus pastores, ele foi no seu carro até a aldeia e sentou-
  se no terraço ajardinado do café para bater um papo com o pai da moça. O Signor Vitelli teve
  pena dele e mandou um recado para que a mulher e a filha descessem até o café a fim de se
  unirem a eles. Essa reunião foi menos embaraçosa. Apollonia estava menos tímida e falou mais.
  Trajava o seu vestido estampado diário que assentava muito mais com a sua cor.
    No dia seguinte, ocorreu a mesma coisa. Só que desta vez Apollonia usava a corrente de ouro
  que ele lhe dera. Michael sorriu para ela então, sabendo que isso era um sinal para ele. Subiu o
  morro com ela, a mãe bem de perto atrás deles. Mas era impossível que os dois jovens evitassem
  que os seus corpos se roçassem um no outro e certa vez Apollonia tropeçou e caiu em cima dele
  de forma que Michael teve de segurá-la, e o seu corpo tão quente e vivo em suas mãos despertou
  uma onda profunda de sangue no corpo dele. Não podiam ver a mãe atrás deles sorrindo, porque
  ela sabia que a filha era uma cabra montesa e não tropeçara nesse caminho desde que era um
  bebê de fraldas. Sorrindo porque esse era o único meio que o rapaz ia ter para pôr as mãos em
  sua filha até o casamento.
    Isso continuou por duas semanas. Michael levava presentes toda vez que ia vê-la, e Apollonia
  se  tornava  cada  vez  menos  tímida.  Mas  nunca  podiam  encontrar-se  sem  a  presença  de  uma
  chaperone. Ela era uma garota de aldeia, quase analfabeta, sem idéia do mundo, mas dotada de
  uma vivacidade, de uma ânsia de viver que, com o auxílio da barreira da linguagem, fazia-a
  parecer interessante. Tudo foi muito rápido a pedido de Michael. E como a moça não somente
  estava fascinada por ele, mas sabia que ele devia ser rico, a data do casamento foi marcada para
  duas semanas depois, num domingo.
    Agora Don Tommasino estava senhor da situação. Recebera informação da América de que
  Michael  não  estava  sujeito  a  ordens,  mas  que  todas  as  precauções  elementares  deviam  ser
  tomadas. Assim Don Tommasino arrogou-se o título de pai do noivo para garantir a presença dos
  seus próprios guarda-costas. Calo e Fabrizzio também foram membros do grupo de casamento
  dos Corleone como o foi também o Dr. Taza. A noiva e o noivo viveriam na villa do Dr. Taza
  cercada por seu muro de pedra.
    O casamento foi tipicamente camponês. Os aldeões postaram-se nas ruas e atiraram flores
  quando os noivos, padrinhos. familiares e convidados se dirigiram a pé da igreja até à casa da
  noiva, O cortejo nupcial brindou os vizinhos com amêndoas açucaradas, os tradicionais confeitos
  de casamento, e com os confeitos que sobraram fizeram montanhas brancas açucaradas no leito
  nupcial da noiva, nesse caso apenas um leito simbólico, já que a primeira noite seria passada na
  villa fora de Corleone. A festa de casamento prosseguiu até meia-noite, mas a noiva e o noivo
  deveriam  partir  antes  disso  no  Alfa  Romeo.  Quando  chegou  esse  momento,  Michael  se
  surpreendeu ao verificar que a mãe estava vindo com eles para a villa de Corleone a pedido da
  noiva. O pai explicou: a garota era nova, virgem, e estava um pouco atemorizada, precisaria de
  alguém com quem conversar na manha seguinte à noite nupcial; para instruí-la se as coisas não
  corressem bem. Tal situação às vezes se tornava muito difícil. Michael percebeu Apollonia olhar
  para  ele  com  certa  dúvida  em  seus  enormes  olhos  castanhos  de  corça.  Ele  sorriu  para  ela  e
  acenou com a cabeça.
    E assim aconteceu que voltaram para a villa fora de Corleone com a sogra no carro. Mas a
  mãe da moça imediatamente consultou as criadas do Dr. Taza, deu um abraço e um beijo na
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