Page 224 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— Acredite na minha palavra, é melhor o senhor sair e falar com ele.
E alguma coisa o fizera sair. Agora alguma coisa o fazia compreender que seria melhor se
mostrar cortês a esse estrangeiro. Ele respondeu de má vontade:
— Venha domingo à tarde. Meu nome é Vitelli e minha casa é ali no morro, acima da
aldeia. Mas venha aqui ao café e eu o levarei lá em cima.
Fabrizzio iniciou um palavreado, mas Michael lançou-lhe um olhar que fez a língua do pastor
gelar na boca. Isso não escapou a Vitelli. Assim, quando Michael se levantou e estendeu a mão, o
dono do café apertou-a e sorriu. Ele faria algumas Investigações, e se as respostas fossem
desfavoráveis, podia sempre receber Michael com os dois filhos armados de espingardas. O dono
do café tinha também os seus contatos entre os “amigos dos amigos”. Mas alguma coisa lhe dizia
que isso era um desses golpes formidáveis da boa sorte nos quais os sicilianos sempre
acreditavam, algo lhe dizia que a beleza de sua filha traria a fortuna dela e a segurança da
família. E havia outra vantagem. Alguns dos rapazes locais já estavam começando a passear de
carro por ali e aquele estrangeiro de cara quebrada poderia se encarregar de afugentá-los.
Vitelli, para mostrar sua boa vontade, despedira-se do estrangeiro oferecendo-lhe uma garrafa
de seu melhor e mais fino vinho. Ele percebeu que foi um dos pastores que pagou a conta. Isso o
impressionou ainda mais, tornando claro que Michael era o superior dos dois homens que o
acompanhavam.
Michael não estava mais interessado no passeio. Encontraram uma garagem e alugaram um
carro com motorista para levá-los de volta a Corleone, e pouco depois da ceia o Dr. Taza era
informado pelos pastores do que acontecera. Naquela noite, sentado no jardim, o Dr. Taza disse a
Don Tommasino:
— Nosso amigo foi atingido pelo raio hoje.
Don Tommasino pareceu não se surpreender. Apenas resmungou:
— Eu queria que alguns desses rapazes de Palermo fossem atingidos pelo raio, talvez assim
eu pudesse ter algum sossego.
Ele estava falando dos chefes da Máfia da nova geração que surgiam nas grandes cidades
como Palermo e que desafiavam o poder dos esteios do velho regime como ele.
Michael disse a Tommasino:
— Quero que o senhor diga a esses dois pastores de ovelhas que me deixem sozinho no
domingo. Vou jantar com a família daquela moça e não os quero rondando por lá.
Don Tommasino balançou a cabeça.
— Sou responsável por você junto a seu pai, não me peça isso. Outra coisa, ouvi dizer que
você até falou em casamento. Não posso permitir isso até mandar alguém falar com seu pai.
Michael Corleone foi muito cauteloso, pois afinal de contas sabia que estava falando com um
homem de respeito.
— Dom Tommasino, o senhor conhece meu pai. Ele é um homem que fica surdo quando
alguém pronuncia a palavra “não”. E só volta a ouvir novamente quando lhe respondem com um
“sim”. Bem, ele já ouviu meu “não” muitas vezes. Compreendo o motivo dos dois guardas, não
quero causar complicações ao senhor, eles podem vir comigo no domingo, mas se eu quiser
casar eu caso. Certamente como não permito que meu próprio pai se meta na minha vida
particular, seria um insulto a ele deixar que o senhor o faça.
O capo-mafioso deu um suspiro.
— Bem, então, haverá casamento. Conheço a sua “paixão”. Ela é uma boa garota de uma
família respeitável. Você não pode desonrá-la sem que o pai tente matá-lo, e depois você terá de
derramar sangue. Além disso, conheço a família bem, não posso permitir que tal coisa aconteça.
— Talvez — retrucou Michael — ela não suporte olhar para mim como estou agora, e é uma
garota muito nova, vai achar-me velho. — Ele viu os dois homens rirem para ele e acrescentou:
—. Preciso de algum dinheiro para presentes e penso que preciso também de um carro.
Don Tommasino acenou com a cabeça.