Page 225 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— Fabrizzio cuidará de tudo, é um rapaz esperto, aprendeu mecânica na Marinha. Vou dar
algum dinheiro a você pela manhã e informarei ao seu pai sobre o que está acontecendo. Isso
tenho de fazer.
Michael perguntou ao Dr. Taza:
— O senhor tem alguma coisa que faça secar esse corrimento do meu nariz? Não quero que
a garota me veja assoar o nariz a todo momento.
— Vou cobri-lo com um remédio antes de você ir vê-la — respondeu o Dr. Taza. — Fará a
sua carne ficar um pouco dormente, mas não se preocupe, você por enquanto não a beijará.
Tanto o médico como Don Tommasino riram da piada.
No domingo, Michael recebeu um Alfa Romeo, amassado, mas ainda em condições
razoáveis. Ele fizera também uma viagem de ônibus a Palermo para comprar presentes para a
garota e a família dela. Soubera que o nome da jovem era Apollonia e toda noite ele pensava em
seu rosto encantador e em seu nome adorável. Tinha de beber um bocado de vinho para dormir,
por isso foram dadas ordens às criadas velhas da casa que deixassem uma garrafa de vinho à sua
cabeceira. Ele esvaziava-a toda noite.
No domingo, ao repicar dos sinos das igrejas que se espalhavam por toda a Sicília, Michael
dirigiu o Alfa Romeo para a aldeia e estacionou.o diante do café. Calo e Fabrizzio estavam no
assento traseiro com suas luparas e Michael disse-lhes que deviam esperar no café, que não
deviam ir até a casa. O café estava fechado, mas Vitelli os aguardava lá, encostado no parapeito
de seu terraço vazio.
Trocaram apertos de mão, e Michael apanhou os três embrulhos de presentes. Em seguida,
começou a subir penosamente o morro com Vitelli até à casa deste, a qual era maior do que a
choupana comum da aldeia; os Vitelli não eram pobres.
No interior da casa, viam-se imagens da Madonna sepultada em vidro, luzes votivas
vermelhas piscando a seus pés. Os dois filhos estavam esperando, também vestidos em sua roupa
preta domingueira. Eram dois rapazes fortes com vinte e poucos anos de idade, mas parecendo
mais velhos devido ao trabalho duro que executavam na fazenda. A mãe era uma mulher
vigorosa, tão robusta quanto o marido. Não havia sinal da garota.
Depois das apresentações, que Michael nem sequer ouviu, sentaram-se no que possivelmente
seria uma sala de estar ou talvez, também, sala de jantar de cerimônia. Estava atravancada de
móveis de toda espécie e não era muito grande, mas para a Sicília era o esplendor da classe
média.
Michael deu os presentes ao Signor e Signora Vitelli. Para o pai foi um cortador de charuto,
de ouro, para a mãe um corte do tecido mais fino que se poderia comprar em Palermo. Ele
ainda tinha um embrulho para Apollonia. Os presentes foram recebidos com agradecimentos
reservados. Foram um tanto prematuros, não deveria ter dado nada até a segunda visita.
O pai disse a Michael falando de homem para homem à maneira do campo:
— Não pense que somos assim tão sem importância para receber estrangeiros em nossa
casa com tanta facilidade. Mas Don Tommasino se responsabilizou pessoalmente pelo senhor e
ninguém nesta província poderia jamais duvidar da palavra desse bom homem. E assim
resolvemos receber o senhor. Mas devo dizer-lhe que, se as suas intenções a respeito de minha
filha são sérias, teremos de saber um pouco mais sobre o senhor e a sua família. O senhor
compreende, a sua família é daqui.
Michael acenou com a cabeça e respondeu delicadamente:
— Contarei ao senhor tudo o que quiser saber a qualquer tempo.
O Signor Vitelli levantou a mão.
— Não sou um homem curioso. Vamos ver primeiro se é necessário. Neste momento, o
senhor é bem-vindo em minha casa por ser amigo de Don Tommasino.
Apesar do remédio pincelado no interior de seu nariz, Michael conseguiu sentir realmente o
cheiro da presença da garota na sala. Virou-se e viu-a postada na porta em arco que dava para os
fundos da casa. O cheiro era de flores frescas e florescência de limão, mas ela não usava nada