Page 237 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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mais  casar  com  ela?  Pensava  Michael  que  ela  era  uma  dessas  pobres  e  ignorantes  moças
  italianas que cometeriam suicídio ou fariam uma cena após terem perdido a virgindade e serem
  abandonadas? Mas ela manteve a voz tão fria quanto possível.
    —  Eu  compreendo,  muito  obrigada  —  disse  ela.  —  Estou  contente  por  que  Michael  se
  encontra  novamente  em  casa  e  está  bem.  Queria  apenas  saber.  Não  telefonarei  mais  para  a
  senhora.
    A voz da Sra. Corleone veio impacientemente através do fio, como se ela não tivesse ouvido
  nada do que Kay dissera.
    — Você precisa ver Mikey, venha aqui agora mesmo. Faça-lhe uma boa surpresa. Tome um
  táxi, vou dizer ao homem do portão para pagar o táxi para você. Diga ao motorista que ele vai
  receber o dobro do que marcar o relógio, do contrário não vai querer vir a Long Beach. Mas não
  pague. O empregado de meu marido que está no portão pagará a corrida.
    — Não posso fazer isso, Sra. Corleone — respondeu Kay friamente. — Se Michael quisesse
  me ver, teria telefonado para minha casa antes disso. Certamente ele não quer reatar amizade
  comigo.
    A voz da Sra. Corleone veio energicamente pelo fio.
    — Você é uma moça muito distinta, tem pernas bonitas, mas não tem muita cabeça.
    Kay conteve o riso.
    — Você vem ver a mim, não Mikey — acrescentou. — Quero falar com você. Venha agora
  mesmo. E não pague o táxi. Estou esperando você.
    O telefone deu um estalido. A Sra. Corleone desligara.
    Kay podia chamar novamente e dizer que não ia, mas sabia que precisava ver Michael, falar
  com  ele,  mesmo  que  fosse  apenas  uma  conversa  formal.  Se  ele  estava  em  casa  agora,
  abertamente, isso queria dizer que não havia mais dificuldades, que podia viver normalmente.
  Ela pulou da cama e começou a se aprontar para ir vê-lo. Caprichou bastante na maquilagem e
  no modo de vestir-se. Quando já estava pronta para sair, olhou para sua imagem no espelho.
  Estaria  ela  com  melhor  aparência  do  que  quando  Michael  desaparecera?  Ou  será  que  ele  a
  acharia desgraciosamente mais velha? Sua figura se tornara mais feminina, suas cadeiras mais
  redondas,  seus  seios  maiores;  os  italianos  aparentemente  gostavam  disso,  embora  Michael
  sempre  dissesse  que  gostava  dela  magra  mesmo.  Isso  realmente  não  importava,  Michael
  evidentemente não queria mais nada com ela, do contrário teria certamente telefonado nos seis
  meses em que já estava em casa.
    O motorista do táxi, para o qual ela fez sinal, recusou-se a levá-la a Long Beach até que ela
  deu um belo sorriso, dizendo-lhe que pagaria o dobro do que marcasse o taxímetro. A viagem
  durou quase uma hora e a alameda de Long Beach estava mudada desde que ela a vira pela
  última vez. Havia grades de ferro em toda a volta e um portão de ferro obstruía a entrada da
  alameda.  Um  homem  usando  calças  largas  e  um  paletó  branco  sobre  uma  camisa  vermelha
  abriu o portão, meteu a cabeça no táxi para ver quanto marcava o taxímetro e deu ao motorista
  algumas notas. Depois, quando Kay viu que o motorista não estava protestando e ficou satisfeito
  com o dinheiro que recebeu, ela saltou e caminhou pela alameda na direção da casa do centro.
    A  própria  Sra.  Corleone  abriu  a  porta  e  recebeu  Kay  com  um  abraço  caloroso  que  a
  surpreendeu. Depois examinou Kay, medindo-a de alto a baixo.
    — Você é uma moça bonita — disse ela diretamente. — Tenho filhos estúpidos.
    Ela puxou Kay para dentro da porta e levou-a para a cozinha, onde um prato de comida já
  estava posto na mesa e um bule de café se achava sobre o fogo.
    — Michael vai chegar daqui a pouco — disse ela. — Você vai surpreendê-lo.
    Sentaram-se juntas e a velha forçou Kay a comer, enquanto fazia perguntas com grande
  curiosidade. Estava encantada por saber que Kay era professora e que viera a Nova York visitar
  umas  amigas  e  que  tivesse  apenas  24  anos  de  idade.  Ela  continuava  a  acenar  com  a  cabeça
  como se todos os fatos concordassem com certas especificações particulares que ela tinha na
  mente. Kay estava tão nervosa que apenas respondia às perguntas, não dizendo mais nada.
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