Page 240 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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no escritório. Não lhe contarei nada sobre o meu negócio. Você será minha esposa, mas não será
  minha sócia na vida, se é assim que devo dizer. Não uma sócia em igualdade de condições. Isso
  não pode ser.
    Kay  sentou-se  na  cama.  Ligou  a  lâmpada  enorme  da  mesinha-de-cabeceira  e  depois
  acendeu um cigarro. Recostou-se nos travesseiros e falou calmamente:
    —  Você  está  dizendo  a  mim  que  é  um gangster,  não  é  verdade?  Está  dizendo  que  é
  responsável por gente que é assassinada e por vários outros crimes relacionados com homicídio.
  E que jamais devo fazer perguntas sobre esta parte de sua vida, nem mesmo pensar nela. Tal
  como nos filmes de terror em que o monstro pergunta à moça bonita se quer casar com ele.
    Michael arreganhou os dentes, com a parte deformada do seu rosto virada para ela, e Kay
  disse como que arrependida:
    — Oh, Mike, nem notei essa coisa estúpida, juro que não...
    — Eu sei — retrucou Michael rindo. — Gosto de ter isso agora, só que faz a coriza escorrer-
  me constantemente do nariz.
    — Você pediu para falarmos sério — disse Kay. — Se a gente se casar, que espécie de vida
  vou levar? Como a sua mãe, como uma dona-de-casa italiana que deve cuidar apenas dos filhos
  e da casa? E se acontecer alguma coisa? Penso que você pode acabar um dia na cadeia.
    — Não, isso não é possível — retrucou Michael. — Assassinado, sim; na cadeia, não.
    Kay  riu  dessa  declaração  de  autoconfiança,  era  um  riso  com  um  misto  engraçado  de
  orgulho e diversão.
    — Mas como pode você dizer isso? — perguntou ela. — Francamente.
    Michael deu um suspiro.
    — Estas são justamente as coisas sobre as quais não posso falar a você, sobre as quais não
  quero falar a você.
    Kay permaneceu calada por muito tempo.
    — Por que você quer casar comigo depois de não ter-me telefonado por todos esses meses?
  Sou tão boa assim na cama?
    Michael acenou com a cabeça gravemente.
    — Exatamente — respondeu ele. — Mas estou fazendo isso de graça, logo, por que não devo
  casar com você por isso? Olhe, não quero a resposta agora. Vamos continuar a nos encontrar.
  Você pode falar com os seus pais. Ouvi dizer que o seu pai é um homem duro à moda dele. Ouça
  o conselho dele.
    — Você não respondeu por que quer casar comigo — insistiu Kay.
    Michael tirou um lenço da gaveta da mesinha-de-cabeceira. Assoou-se nele, depois limpou o
  nariz.
    — Você tem o melhor motivo para não casar comigo — disse ele. — Que tal ter um sujeito
  ao lado que está sem o nariz?
    Kay voltou a insistir com impaciência:
    — Vamos, falemos sério, eu lhe fiz uma pergunta.
    Michael segurou o lenço na mão.
    —  Está  bem  —  concordou  ele  —  agora  mesmo.  Você  é  a  única  pessoa  por  quem  sinto
  alguma  afeição,  de  quem  eu  gosto.  Não  telefonei  para  você  porque  jamais  me  ocorreu  que
  pudesse ainda estar interessada em mim depois de tudo o que aconteceu. É verdade, eu podia ter
  perseguido você, podia ter confiado em você, mas não quis fazer isso. Agora eis uma coisa que
  vou confidenciar a você e não quero que repita isso nem mesmo a seu pai. Se tudo correr bem, a
  Família Corleone ficará completamente legal daqui a cinco anos. Algumas coisas complicadas
  têm de ser feitas para tornar Isso possível. Este o motivo por que talvez você se tome uma viúva
  rica. Agora, para que quero você? Bem, porque gosto de você e quero ter uma família. Quero
  filhos; já é tempo. E não quero que meus filhos sejam influenciados por mim da manei ra que eu
  fui por meu pai. Não quero dizer que meu pai me influenciou deliberadamente. Ele nunca fez
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