Page 242 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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ganhar dinheiro para prover a subsistência da mulher e dos filhos ë daqueles amigos de que ele
possa precisar algum dia numa hora de dificuldade. Ele não aceita as regras da sociedade em
que vivemos porque tais regras o condenariam a uma vida inadequada para um homem como
ele, um homem de extraordinária força de caráter. O que você precisa compreender é que ele
se considera igual a todos esses grandes homens como presidentes, primeiros-ministros, juizes da
Corte Suprema e governadores dos Estados. Ele se recusa a aceirtar a vontade deles acima da
dele própria. Ele se recusa a viver pelas regras estabelecidas pelos outros, regras que o
condenam a uma vida frustrada. Mas o objetivo supremo de meu pai é entrar nessa sociedade
com certo poder, já que a sociedade não protege realmente os seus próprios membros, que não
possuem poder individual. Enquanto isso, ele opera com base num código de ética que considera
muito superior às estruturas legais da sociedade.
— Mas isso é ridículo — retrucou Kay, incredulamente. — Que aconteceria se todo mundo
sentisse a mesma coisa? Como poderia funcionar a sociedade Voltaríamos aos tempos dos
homens das cavernas. Mike, você não acredita no que está dizendo, acredita?
Michael arreganhou os dentes para ela
— Estou apenas lhe dizendo em que meu pai acredita. Quero apenas que você compreenda
que, seja lá o que ele for, ele não é responsável, ou pelo menos não na sociedade que ele criou.
Meu pai não é um gangster maluco armado de metralhadora como parece que você pensa. Ele é
um homem responsável à sua própria moda.
— E em que você acredita? — perguntou Kay calmamente.
Michael deu de ombros.
— Acredito em minha família — respondeu. — Acredito em você e na familia que podemos
ter. Não confio que a sociedade nos proteja, não tenho a intenção de colocar o meu destino nas
mãos de homens cuja única qualificação consiste em procurar convencer um grupo de pessoas a
votar neles. Mas isso é por enquanto. A época de meu pai já passou. As coisas que ele fez não
podem mais ser feitas, a menos que se corra um bocado de risco. Quer gostemos disso ou não, a
Família Corleone tem de se juntar a essa sociedade. Mas quando o fizer, quero que nos juntemos
a ela com uma grande parte de nosso próprio poder; isto é, dinheiro e propriedade de outros
valores. Eu gostaria de garantir meus filhos tanto quanto possível antes que eles se juntem a esse
destino geral.
— Mas você se apresentou voluntariamente para lutar pelo seu país, você foi um herói de
guerra — disse Kay. — Que foi que aconteceu para fazer você mudar?
Michael respondeu:
— Isso realmente não nos vai levar a lugar algum. Mas talvez eu seja apenas um dos
verdadeiros conservadores antiquados como aqueles que nascem e vivem em sua cidadezinha.
Eu cuido de mim, particularmente. Os governos realmente não fazem muito pelo seu povo, isso é
o que se diz geralmente, mas não é o que acontece na realidade. Tudo o que posso dizer é que
tenho de ajudar meu pai, tenho de estar do lado dele. E você precisa decidir se quer ficar do meu
lado. — Sorriu para ela e acrescentou: — Acho que casar foi má idéia.
Kay deu uma pancadinha na cama.
— Nada sei a respeito de casamento, mas passei dois anos sem homem e não vou largar
você assim tão facilmente. Venha cá.
Quando estavam na cama juntos, com as luzes apagadas, ela perguntou baixinho:
— Você acredita que passei sem homem desde que você partiu?
— Eu acredito em você — respondeu Michael.
— Acredita mesmo? — murmurou ela com urna voz bastante meiga.
— Acredito sim — respondeu ele. Michael a sentiu tornar-se mais rija. — E eu não estive
com outra mulher.
Era verdade. Kay era a primeira mulher com quem ele se deitava desde morte de
Apollonia.