Page 239 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— É melhor irmos para o quarto.
Kay tomou um longo trago da bebida e sorriu para ele.
— É mesmo —. concordou ela.
Para Kay, o amor entre eles era quase como antes, exceto que Michael parecia mais
grosseiro, mais objetivo, não tão carinhoso quanto costumava ser. Como se estivesse em guarda
contra ela. Mas ela não queria lamentar-se. Isso passaria. De um modo engraçado, os homens
eram mais sensíveis numa situação como essa, pensou ela. Kay achou que ir para a cama com
Michael após uma ausência de dois anos era a coisa mais natural do mundo. Era como se ambos
nunca se tivessem separado.
— Você podia ter-me escrito, podia ter confiado em mim — disse ela, aconchegando-se ao
corpo dele. — Eu teria praticado a omertá da Nova Inglaterra. Os ianques são também bastante
reservados, você sabe.
Michael riu brandamente no escuro.
— Nunca imaginei que você esperasse — disse ele. — Nunca imaginei que você esperasse
depois do que aconteceu.
— Nunca acreditei que você tivesse matado aqueles dois homens — retrucou Kay
prontamente. — A não ser, talvez, quando a sua mãe parecia pensar isso. Mas nunca acreditei
nisso intimamente. Conheço você muito bem.
Ela ouviu Michael dar um suspiro.
— Não importa se eu matei ou não — disse ele. — Você precisa compreender isso.
Kay ficou um pouco assombrada com a frieza da voz dele. Então perguntou.
— Portanto, diga-me agora, você matou ou não?
Michael sentou-se recostado no seu travesseiro, e no escuro via-se uma luz brilhar enquanto
ele fumava um cigarro.
— Se eu pedisse a você que se casasse comigo, eu teria de responder primeiro a essa
pergunta para que você desse uma resposta à minha?
— Não me importo — respondeu Kay — eu gosto de você, não me importo mesmo. Se você
gostasse de mim, não teria medo de me contar a verdade. Não teria medo de que eu pudesse
contar à polícia. Este é o caso, não é? Você é de fato um gangster então, não é assim? Mas
realmente não me importo. Eu me importo é com o fato de que você evidentemente não gosta de
mim. Você nem me telefonou quando voltou para casa.
Michael continuou a fumar o seu cigarro e um pouco da cinza quente caiu nas costas de Kay.
Ela encolheu-se um pouco e disse brincando:
— Pare de me torturar, eu não falarei.
Michael não riu. A sua voz parecia distraída.
— Você sabe, quando voltei para casa não fiquei contente quando vi minha família, meu pai,
minha mãe, minha irmã Conme e Tom. Foi agradável, mas realmente não me importei nem um
pouco. Então voltei esta noite para casa e vi você na cozinha e fiquei contente. É isso o que você
chama amor?
— Isso já é o bastante para mim — respondeu Kay.
Troçaram carícias e amaram-se novamente por algum tempo. Michael foi mais carinhoso
desta vez. Em seguida, levantou-se e foi apanhar mais bebida para eles. Quando voltou, sentou-se
numa poltrona em frente à cama.
— Vamos falar sério — disse ele. — Que tal você acha de casar comigo?
Kay sorriu para ele e fez-lhe sinal para vir para a cama. Michael retribuiu o sorriso e
continuou a falar:
— Responda sério. Não posso contar a você nada do que aconteceu. Trabalho agora para o
meu pai. Estou sendo treinado para assumir o negócio de azeite da família. Mas você sabe que
minha família tem inimigos, meu pai tem inimigos. Você pode ficar viúva muito cedo, há uma
possibilidade, não muito grande, mas pode acontecer. E não lhe contarei o que acontecer todo dia