Page 241 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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isso. Nem me queria sequer no negócio da Família. Ele queria que eu me tornasse professor ou
  doutor, algo como isso. Mas as coisas correram mal e eu tive de lutar pela minha família. Tive de
  lutar porque amo e admiro meu pai. Jamais conheci um homem mais digno de respeito. Sempre
  foi um bom marido, um bom pai e um bom amigo para as pessoas que não eram muito felizes na
  vida. Ele tem outro lado, mas isso não me interessa como seu filho. De qualquer modo, não quero
  que  isso  aconteça  a  meus  filhos.  Quero  que  eles  sejam  influenciados  por  você.  Quero  que
  cresçam como meninos cem por cento americanos, realmente cem por cento americanos, todos
  eles. Talvez eles ou os netos deles ingressem na política.
    Michael arreganhou os dentes e continuou:
    — Talvez um deles seja presidente dos Estados Unidos. Por que diabo não? Em meu curso de
  História,  em  Dartmouth,  fizemos  um  levantamento  dos  ancestrais  de  todos  os  presidentes  e
  descobrimos que os pais e avós de alguns tiveram a sorte de não morrer na forca. Mas arranjarei
  para que os meus filhos sejam doutores, músicos ou professores. Jamais entrarão no negócio da
  Família. Na época em que eles tiverem essa idade, já estarei aposentado. E você e eu faremos
  parte  do  grupo  de  membros  de  um  clube  campestre,  teremos  a  vida  boa  dos  americanos
  abastados. Qual a sua impressão sobre essa minha proposta?
    — Maravilhosa — respondeu Kay. — Mas você como que saltou a parte da viúva.
    — Não há muita possibilidade disso. Apenas a mencionei para dar sensação.
    Michael bateu-lhe de leve no nariz com o lenço.
    — Não acredito, não acredito que você seja um homem assim, você exatamente não é —
  disse Kay.
    O rosto dela apresentava um ar perplexo. E ela continuou:
    — Não consigo compreender a coisa toda, como isso poderia ser.
    — Bem, não vou dar mais explicações — disse Michael delicadamente. — Você sabe, não
  precisa pensar em nenhuma dessas coisas, isso realmente nada tem a ver com você ou com a
  nossa vida juntos, se nos casarmos.
    Kay balançou a cabeça.
    — Como pode você querer casar comigo, como pode você insinuar que gosta de mim, você
  nunca me disse isso, mas acaba de dizer que gosta de seu pai, você nunca disse que gostava de
  mim, como pode gostar de mim, se desconfia tanto de mim que não pode contar-me as coisas
  mais importantes de sua vida? Como pode querer ter uma esposa na qual não pode confiar? O seu
  pai confia na sua mãe. Eu sei disso.
    — É verdade — respondeu Michael. — Mas isso não quer dizer que ele conta tudo a ela. E,
  você sabe, ele tem razão para confiar nela. Não porque eles se casaram e ela é mulher dele. Mas
  ela lhe deu quatro filhos nos tempos em que não era tão seguro ter filhos. Ela cuidou dele e o
  protegeu quando os outros atiravam nele. Ela acreditava nele. Ele foi sempre a pessoa a quem
  ela  dedicou  a  maior  lealdade  durante  quarenta  anos.  Depois  de  você  fazer  isso,  talvez  eu  lhe
  conte algumas coisas que você realmente não quer ouvir.
    — Teremos de viver na alameda? — perguntou Kay.
    Michael acenou a cabeça afirmativamente.
    —  Teremos  a  nossa  própria  casa,  não  será  assim  tão  ruim.  Meus  pais  não  se  meterão.
  Teremos a nossa própria vida. Mas até que se acerte tudo, tenho de viver na alameda.
    — Porque é perigoso, para você, viver fora dela — retrucou Kay.
    Pela primeira vez desde que o conhecia, ela viu Michael zangado. Era uma zanga fria que
  não foi externada por qualquer gesto ou alteração da voz. Era uma frieza que se desprendia dele
  como a morte, e Kay sabia que era essa frieza que a faria decidir-se a não se casar com ele se
  ela assim decidisse.
    — A complicação toda vem dessa porcaria que se vê no cinema e nos jornais — afirmou
  Michael. — Você tem uma idéia errada do meu pai e da Família Corleone. Vou dar a última
  explicação  e  esta  será  realmente  a  última.  Meu  pai  é  um  homem  de  negócios  que  procura
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