Page 245 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 245
chamar o médico quando isso acontecesse, apenas pô-lo na cama e ele estaria bem na manhã
seguinte. Assim, foi isso o que fizemos. Ele tem muita sorte, ganhou novamente esta noite, quase
três mil dólares.
— Bem — retrucou Johnny Fontane — vamos chamar o médico da casa aqui esta noite, está
bem? Chame-o na sala de jogo se for preciso.
Passaram-se quase 15 minutos para que Jules Segal chegasse ao apartamento. Johnny notou
com irritação que o camarada não tinha a menor aparência de médico. Nessa noite usava uma
camisa de pólo, azul, furadinha, com enfeite branco, e sapatos de camurça brancos, sem meias.
Seu aspecto era engraçadíssimo, carregando a tradicional bolsa preta de médico.
— Você devia imaginar um meio de carregar o seu material numa bolsa de golfe de
tamanho reduzido — disse Johnny.
Jules riu para Johnny sem compreender e respondeu:
— Ë, essa maleta médica é um verdadeiro trambolho. Assusta todo mundo. De qualquer
forma, deviam pelo menos mudar a cor.
Dirigiu se ate onde Nino estava deitado na cama Quando abriu a bolsa, disse para Johnny:
— Obrigado por aquele cheque que você me enviou pelos meus serviços. Foi demais. Eu não
merecia tanto.
— Que se dane se você não merecia — respondeu Johnny. — De qualquer modo, esqueça
aquilo, já foi há muito tempo. Que é que há com Nino?
Jules estava fazendo um rápido exame da batida do coração, do pulso e da pressão
sanguínea. Tirou uma agulha da bolsa e enfiou-a casualmente no braço de Nino e apertou o
êmbolo. O rosto adormecido de Nino perdeu a palidez de cera, a cor voltou-lhe às faces, como se
o sangue tivesse começado a bombear mais depressa.
— Diagnóstico muito simples — anunciou Jules animado. — Tive oportunidade de examiná-
lo e fazer alguns testes, quando ele veio aqui a primeira vez e desmaiou. Fi-lo transferir para o
hospital antes de voltar a si. Está com diabetes, estável, brando, adulto, que não é problema
quando a pessoa toma cuidado, seguindo a medicação, a dieta e assim por diante. Ele insiste em
não tomar conhecimento da doença. Além disso, está firmemente decidido a beber até morrer.
O seu fígado está se arruinando e a sua cabeça vai no mesmo caminho. Agora mesmo ele se
acha em estado de coma diabético brando. Meu conselho é que se deve interná-lo.
Johnny teve uma sensação de alívio. Não podia ser coisa muito séria, tudo o que Nino
precisava fazer era cuidar de si mesmo.
— Você quer dizer num desses lugares em que fazem a pessoa deixar de beber
completamente? — perguntou Johnny.
Jules foi até o bar no canto afastado da sala e serviu uma bebida para si mesmo.
— Não — respondeu ele. — Quero dizer recolhido. Você sabe, um hospício.
— Não seja engraçadinho — retrucou Johnny.
— Não estou brincando — afirmou Jules. — Não conheço profundamente esse negócio de
psiquiatria, mas sei alguma coisa a respeito, é parte de minha profissão. O seu amigo Nino pode
ser posto novamente em muito boa forma, a não ser que o seu fígado tenha piorado muito, o que
não podemos saber enquanto não se fizer a sua autópsia. Mas a sua verdadeira doença é na
cabeça. Em suma, ele não se importa de morrer, talvez até queira se matar. Enquanto não se
curar isso, não há esperança para ele. Por isso é que digo, é preciso recolhê-lo a um hospital de
doenças mentais para submetê-lo ao necessário tratamento psiquiátrico.
Bateram na porta, e Johnny foi atender. Era Lucy Mancini. Ela caiu nos braços de Johnny e
beijou-o.
— Oh, Johnny, é tão bom ver você por aqui — disse ela.
— Já faz muito tempo que não nos vemos — declarou Johnny Fontane.
Ele notou que Lucy tinha mudado. Estava mais esbelta, suas roupas eram mais finas e ela as
usava com mais elegância. O seu penteado assentava-lhe bem, era uma espécie de corte de