Page 246 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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cabelo de menino. Ela parecia mais jovem e melhor do que ele jamais a vira em toda a vida, e
  passou-lhe pela mente a idéia de que ela podia fazer-lhe companhia ali em Las Vegas. Seria um
  prazer ter a seu lado uma verdadeira mulher. Mas antes mesmo de concretizar o convite, Johnny
  se  lembrou  de  que  ela  a  garota  do  médico.  Assim,  isso  estava  fora  de  cogitação.  Ele  sorriu
  amável para ela e perguntou:
    — Que é que faz vindo ao apartamento de Nino de noite, hem?
    Lucy bateu-lhe no ombro.
    — Ouvi dizer que Nino estava doente e que Jules tinha subido para cá. Eu queria apenas ver
  se podia ajudar. Nino está bem, não está?
    — Certamente — respondeu Johnny. — Ele ficará logo bom.
    — Ele está ruim como o diabo — disse Jules, esparramando-se no sofá. Sugiro que todos nós
  nos sentemos aqui para esperar que Nino volte a si. E então falaremos a ele da necessidade de
  interná-lo. Lucy, você gosta dele, talvez possa ajudar. Johnny, se você é de fato amigo dele, tem
  de  ajudar  também.  Do  contrário,  o  fígado  do  velho  Nino  estará  dentro  de  pouco  tempo  em
  exposição no laboratório médico de alguma universidade.
    Johnny sentiu-se ofendido com a atitude irreverente do médico. Quem diabo pensava ele que
  era? Ele ia começar a dizer isso quando ouviu a voz de Nino vindo da cama:
    — Alô, companheiro velho, que tal um trago?
    Nino estava sentado na cama. Sorriu para Lucy e disse:
    — Alô, meu bem, venha cá abraçar o velho Nino.
    Ele estava com os braços bem abertos. Lucy sentou-se na beirada da mina e deu-lhe um
  abraço.  Bastante  estranho  era  que  Nino  não  parecia  estar  ruim  agora,  seu  aspecto  era  quase
  normal.
    Nino estalou os dedos.
    — Vamos, Johnny, dê-me um trago. A noite ainda é uma criança. Onde diabo está a minha
  mesa de jogo?
    Jules tomou um gole longo de seu próprio copo e falou para Nino:
    — Você não pode beber. O seu médico lhe proíbe.
    — Foda-se o meu médico! — urrou Nino.
    Depois fez uma cara dramática de arrependimento.
    — Alô, Julie, é você. Você é meu médico, está certo? Não me referi a você, companheiro
  velho. Johnny, traga-me uma bebida ou eu me levanto da cama e vou apanhá-la.
    Johnny deu de ombros e caminhou na direção do bar.
    Jules falou com indiferença.
    — Estou dizendo que ele não deve beber.
    Johnny sabia por que Jules o irritava. A voz do médico era sempre fria, as palavras nunca se
  acentuavam por mais terríveis que fossem, a voz era sempre baixa e controlada. Se ele dava um
  aviso, o aviso era apenas em palavras, a própria voz era neutra, como que descuidada. Foi isso
  que fez Johnny ficar bastante aborrecido e levar a Nino o copo de uísque. Antes de entregá-lo ao
  amigo, ele perguntou a Jules:
    — Isto não vai matá-lo, não é verdade?
    — Não,  não vai matá-lo .— respondeu Jules calmamente.
    Lucy  lançou-lhe  um  olhar  ansioso,  começou  a  dizer  alguma  coisa,  depois  resolveu  ficar
  quieta. Entrementes, Nino tinha apanhado o copo e despejado a bebida goela abaixo.
    Johnny estava sorrindo para Nino; eles tinham mostrado ao idiota do médico. De repente,
  Nino respirou convulsivamente, o seu rosto parecia ter ficado azul, ele não podia mais respirar e
  estava sufocado, com falta de ar. O seu corpo pulou para cima como um peixe fora da água, o
  seu rosto estava impressionantemente carregado de sangue, os olhos inchados. Jules apareceu do
  outro  lado  da  cama  de  frente  para  Johnny  e  Lucy.  Pegou  Nino  pelo  pescoço  e  segurou-o
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