Page 244 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Johnny Fontane dizendo:
— E assim que se começa a noite, hem, Johnny?
Johnny sorriu. Era raro que um jogador como Nino tivesse de assinar um vale enquanto
estivesse jogando. Uma palavra era geralmente o bastante para os grandes jogadores. Talvez
eles receassem que Nino não se lembrasse de sua retirada porque estava bebendo. Não sabiam
que Nino se lembrava de tudo.
Nino continuou ganhando e depois da terceira rodada levantou o dedo para a garçonete. Ela
foi até o bar no fim da sala e trouxe-lhe o habitual copo de uísque. Nino apanhou a bebida,
mudou-a para a outra mão para que pudesse passar o braço em volta da garçonete.
— Sente-se comigo, meu bem, jogue algumas rodadas; traga-me sorte.
A garçonete era uma garota muito bonita, mas Johnny podia ver que ela era uma
profissional completamente fria, não uma personalidade real, embora trabalhasse nisso. Ela não
ria entusiasticamente para Nino, mas estava bastante interessada numa daquelas fichas douradas
e pretas. Que diabo, pensou Johnny, porque não devia ela conseguir uma? Ele apenas lamentava
que Nino não obtivesse uma coisa melhor com seu dinheiro.
Nino deixou a garçonete jogar algumas rodadas por ele e depois deu-lhe uma das fichas e
uma pancadinha no traseiro para mandá-la embora da mesa. Johnny fez sinal para que ela lhe
levasse uma bebida. Ela a levou, mas levou como se tivesse representando o momento mais
dramático no filme mais dramático jamais realizado. Lançou todo o seu encanto sobre o grande
Johnny Fontane. Fez os seus olhos cintilarem de convite ao amor, seu andar era o mais sensual já
visto, sua boca estava ligeiramente aberta como se ela estivesse pronta para morder o objeto
mais próximo de sua óbvia paixão. Ela parecia uma fêmea de animal no auge do cio, mas era
um ato premeditado. Johnny Fontane pensou, oh, Cristo, uma delas. Era o convite mais comum
das mulheres que queriam levá-lo para a cama. Só funcionava quando ele se achava muito
bêbedo, o que não era o caso agora. Deu à garçonete um daqueles seus famosos risos
inexpressivos e disse:
— Obrigado, meu bem.
A garota olhou para ele, separou os lábios num sorriso de agradecimento, com os olhos
faiscantes, o corpo tenso com o tronco inclinando-se ligeira mente para trás de suas longas e
afinadas pernas em suas meias de malha. Uma tensão enorme parecia estar tomando conta de
seu corpo, os seios pareciam tomar-se cada vez mais cheios e inchar explosivamente contra a
sua blusa fina escassamente recortada. Então, o seu corpo todo deu um tremor que quase deixou
escapar um zunido sexual. A impressão era de uma mulher que estava tendo um orgasmo
simplesmente porque Johnny Fontane sorrira para ela e dissera: “Obrigado, meu bem.” Foi muito
bem feito, da maneira melhor que Johnny já vira em toda a sua vida. Mas agora ele sabia que
era simulação. E era quase certo que as mulheres que faziam isso eram prostitutas ordinárias.
Ele a acompanhou com os olhos enquanto ela voltava para a sua cadeira e começou a tomar
a sua bebida lentamente. Johnny não queria ver essa pequena artimanha novamente. Não estava
disposto a isso naquela noite.
Demorou ainda uma hora para que Nino Valenti começasse a fraquejar. Ele primeiro se
inclinou, cambaleou para trás e depois tombou da cadeira para mergulhar diretamente no
assoalho. Mas o chefe da banca e o carteador-substituto ficaram alerta desde o primeiro
movimento e o pegaram antes que ele atingisse o chão. Levantaram-no e conduziram-no através
do reposteiro aberto que dava para o quarto de dormir do apartamento.
Johnny continuou a observar a garçonete que ajudava os outros homens a despir Nino e a
enfiá-lo por baixo das cobertas. O chefe da banca contava as fichas de Nino e tomava nota no
seu bloco de vales. Depois, guardou a mesa com as fichas do carteador. Então Johnny perguntou:
— Há quanto tempo isso vem acontecendo?
O chefe da banca deu de ombros.
— Esta noite foi mais cedo. A primeira vez chamamos o médico da casa e ele receitou algo
para o Sr. Valenti e passou-lhe uma espécie de sermão. Depois Nino nos disse que não devíamos