Page 243 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 243
CAPÍTULO 26
O MAGNÍFICO APARTAMENTO dava para as terras que simulavam um país de fadas da
parte dos fundos do hotel; palmeiras transplantadas iluminadas por trepadeiras de luzes cor de
laranja, duas enormes piscinas tremeluzindo uma cor azul-escura à luz das estrelas do deserto.
No horizonte, viam-se as montanhas de areia e pedra que rodeavam Las Vegas aninhada no seu
vale, de néon. Johnny Fontane deixou cair o pesado reposteiro cinza, luxuosamente bordado, e
voltou para o quarto.
Um grupo especial de quatro pessoas, um chefe de banca, um carteador, um carteador-
substituto e uma garçonete com sua escassa roupa de cabaré estavam aprontando as coisas para
uma função particular. Nino Valenti estava deitado no sofá, na sala de estar do apartamento, com
um copo de uísque na mão. Ele observava o pessoal do cassino instalando a mesa de jogo com
meia dúzia de cadeiras acolchoadas em torno de sua borda externa em forma de ferradura.
— Isso é grande, isso é grande! — exclamou numa voz engrolada de quem ainda não estava
muito bêbado. — Johnny, venha cá e jogue comigo contra esses salafrários. Estou com sorte.
Vamos dar uma surra neles.
Johnny estava sentado numa banqueta em frente ao divf.
— Você sabe que eu não jogo — respondeu ele. — Como se sente, Nino?
Nino Valenti arreganhou os dentes para ele.
— Magnificamente. Estou esperando algumas mulheres à meia-noite para cear, depois
voltarei para a mesa de jogo. Você sabe que eu ganhei quase cinqüenta mil dólares e o pessoal
do cassino me chateou durante uma semana?
— Sei — respondeu Johnny Fontane. — Para quem você quer deixá-los quando bater a bota?
Nino esvaziou o copo de uísque
— Johnny, onde foi que você arranjou essa máscara de bom moço? Você é um bobalhão,
Johnny. Meu Deus, os turistas desta cidade se divertem muito mais do que você.
— É verdade — retrucou Johnny. — Você quer que o ajude a ir ate a mesa de jogo?
Nino ergueu-se com esforço e conseguiu sentar-se no sofá, plantando os pés firmemente no
tapete.
— Posso fazer sozinho — respondeu ele.
Deixou o copo cair no chão, levantou-se e caminhou quase com firmeza até o lugar em que
a mesa de jogo tinha sido instalada. O carteador estava pronto. O chefe da banca estava atrás do
carteador olhando. O carteador-substituto estava sentado numa cadeira distante da mesa. A
garçonete estava sentada em outra cadeira, de forma que podia ver qualquer gesto de Nino
Valenti Nino bateu no pano verde com os nós dos dedos.
— Fichas — pediu ele.
O chefe da banca puxou um bloco do bolso e encheu uma folha de papel, pondo-o em frente
de Nino com uma pequena caneta-tinteiro.
— Aqui estão, Sr. Valenti — disse ele. — Os cinco mil dólares habituais para começar.
Nino rabiscou a sua assinatura na parte inferior da folha de papel e o chefe da banca enfiou-
a no bolso. Fez um sinal com a cabeça para o carteador.
O homem, com dedos incrivelmente ágeis, tirou pilhas de fichas de cem dólares douradas e
pretas dos escaninhos situados na sua frente Em menos de cinco segundos, Nino tinha cinco pilhas
iguais de fichas de cem dólares na sua rente, cada pilha com dez fichas.
Havia seis quadrados um pouco maiores do que os formatos das cartas desenhadas em
branco no pano verde, cada quadrado correspondendo ao lugar de cada jogador. Agora Nino
estava pondo apostas em três desses quadrados, fichas simples, e assim jogando por três
parceiros a cem dólares cada aposta. Ele se recusou a pedir carta porque o carteador tinha um
seis virado, uma carta branca, e o carteador estourou. Nino arrastou as fichas e voltou-se para