Page 234 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Michael virou a cabeça. Sentia-se pesado, entorpecido. E então pôde ver que o rosto que estava
por cima de sua cama era o do Dr. Taza.
— Deixe-me olhar você um minuto e depois desligarei a luz — disse o Dr. Taza gentilmente.
Ele estava acendendo uma lanterninha tipo lápis nos olhos de Michael.
— Você vai ficar bom -- disse o Dr. Taza e voltou-se para outra pessoa que se encontrava na
sala. — Você pode falar com ele.
Era Don Tommasino que havia sentado numa cadeira perto da cama, Michael podia vê-lo
claramente agora. Don Tommasino estava dizendo:
— Michael, Michael, posso falar com você? Quer descansar?
Era mais fácil levantar a mão para fazer um gesto e Michael assim fez.
— Fabrizzio trouxe o carro da garagem? — perguntou Don Tommasino.
Michael, sem saber que ele tinha feito isso, sorriu. Era, de um modo estranho, um riso frio,
de assentimento. Don Tommasino explicou:
— Fabrizzio desapareceu. Ouça-me, Michael. Você esteve inconsciente por quase uma
semana. Compreende? Todo mundo pensa que você morreu, assim você está seguro agora, eles
deixaram de procurá-lo. Mandei recados pa ra o seu pai, e ele enviará instruções. Não vai
demorar muito agora, você vai voltar para a América. Enquanto isso, ficará repousando aqui
sossegadamente. Você está seguro aqui nas montanhas, numa casa de uma quinta de minha
propriedade. O pessoal de Palermo fez as pazes comigo agora, pois pensa que você está morto,
assim era atrás de você que aquela gente andava o tempo todo. Queriam matá-lo, enquanto
faziam os outros pensarem que era a mim que procuravam. Isso é uma coisa que você deve
saber. Quanto ao resto deixe por minha conta. Recupere a sua força e fique tranqüilo.
Michael estava se lembrando de tudo agora. Sabia que sua mulher morrera, que Calo estava
morto. Pensou na velha da cozinha. Não se lembrava se ela tinha vindo para fora com ele.
— E Filomena? — murmurou.
Don Tommasino respondeu calmamente:
— Ela não está ferida, apenas com o nariz sangrando por causa da explosão. Não se
preocupe com ela.
— Fabrizzio — disse Michael. — Que os seus pastores saibam que aquele que me entregar
Fabrizzio terá as melhores pastagens da Sicília.
Os dois homens parece que suspiraram de alívio. Don Tommasino levantou um cálice de
uma mesa próxima e bebeu um líquido âmbar que o fez sacudir a cabeça para cima. O Dr. Taza
sentou-se na cama e disse quase distraidamente:
— Você sabe, você é viúvo. Isso é coisa rara na Sicília.
Como se a distinção pudesse confortá-lo.
Michael fez sinal a Don Tommasino para se inclinar mais um pouco. Don Tommasino
sentou-se na cama e baixou a cabeça.
— Diga a meu pai para fazer eu voltar para casa — pediu Michael. — Diga a meu pai que
desejo ser filho dele.
Mas ainda foi necessário um mês para que Michael se restabelecesse dos ferimentos e mais
dois para que todos os documentos e arranjos estivessem prontos. Depois, ele foi enviado de
avião de Palermo para Roma e de Roma para Nova York. E durante todo esse tempo não se
encontrou qualquer vestígio de Fabrizzio.