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O PROJETO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL



                           aproximadamente trinta professores, de um total de 51,   de ensinar é também, necessariamente, um ato de
                           nas três escolas parceiras do projeto. Esse número parece   aprender, superando  a hierarquização  entre sujeitos e
                           razoável se analisado de forma absoluta, mas ainda é   entre saberes – foi um princípio educacional a nortear o
                           pequeno, considerando-se que vários participaram   trabalho realizado. Tentou-se não cair na armadilha que
                           somente de uma atividade pontual, não se envolvendo   marca muitas ações educativas de utilizar a dialogicidade
                           de forma mais orgânica com o projeto.           somente como um “truque” pedagógico, como um falso
                                                                           diálogo no qual quem fala, de fato, não tem nenhum
                           Um dos fatores que pode, com o tempo, vencer em
                                                                           interesse em escutar o que o outro tem a dizer.
                           parte essa resistência tem relação com o próprio
                           escopo conceitual do projeto, quando aponta para   Partiu-se do pressuposto que professores e alunos
                           uma visão freireana  de educação. A dialogicidade   têm conhecimentos diversos sobre o mundo, sobre
                                            4
                           proposta por Freire (1983) – que pressupõe que o ato   educação, sobre seu passado e seu patrimônio cultural.

                            4   Referente às ideias de Paulo Freire, importante   A ideia nunca foi a de dar-lhes algo que  “haviam
                            educador brasileiro.                           perdido” (sua memória e seu patrimônio cultural) ou
                                                                           que “nunca tiveram” (conhecimentos suficientes sobre a
                                                                           tarefa de ensinar), tal como muitos discursos explicitam.
                                                                           Ao contrário, a proposta sempre foi a de partir de seus
                                                                           conhecimentos e de com eles dialogar. É justamente
                                                                           esse diálogo que pode estimulá-los a uma participação
                                                                           maior e a tensionar o “campo de forças” no qual ocorrem
                                                                           as disputas acerca das memórias, dos patrimônios e das
                                                                           identidades que serão vistas como legítimas.

                                                                           As condições para esse diálogo, entretanto, são
                                                                           desfavoráveis, não só pelo que foi exposto acima
                                                                           sobre as condições de trabalho do professor, mas pela
                                                                           própria forma como a instituição escolar é concebida
                                                                           e organizada. Os processos de ensino que ocorrem
                                                                           na escola são marcados historicamente pela divisão
                                                                           em disciplinas (Matemática, Português, História
                Material                                                   etc.), que guardam pouca ou nenhuma inter-relação
           distribuído aos
              professores.                                                 (Fazenda, 2009). Os discursos de interdisciplinaridade,
                                                                           característicos da Pedagogia contemporânea, pouco
                                                                           mudaram as práticas cotidianas dessa instituição. Nesse
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                                                                           contexto, trabalhar com projetos não é algo simples,






                                                                                              ArqueologiA no Pelourinho
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