Page 237 - ARqUEOlOGiA NO PElOURiNhO
P. 237

ALGUNS RESULTADOS INÉDITOS



                           caso da Irmandade da Ordem Terceira de São Francisco   Os pardos normalmente não participavam dos grupos de
                           e da Santa Casa de Misericórdia .               negros. Eles não gozavam de status social, e desejando
                                                    17
                                                                           adquiri-lo preferiam ficar o mais distante possível de
                           Algumas irmandades eram formadas especificamente
                                                                           seu passado ligado à escravidão. Mesmo os pardos
                           por negros, africanos ou crioulos, e por pardos, pois
                                                                           nascidos livres sofriam sanções sociais baseadas na cor
                           a Igreja Católica visava difundir o catolicismo entre as
                                                                           da pele e eram impedidos, por exemplo, de participar
                           camadas inferiores da sociedade. As irmandades de
                                                                           de confrarias ligadas a atividades profissionais por não
                           africanos eram divididas etnicamente, pelo menos
                                                                                                                 19
                                                                           terem a  “pureza de sangue” exigida por elas . Entre
                           até a primeira metade do século XIX, período de
                                                                           africanos (negros) e estrangeiros (brancos) estavam os
                           entrada maciça de escravos no Brasil, e rejeitavam
                                                                           brasileiros mestiços almejando a ascensão, e de certa
                           veementemente crioulos e pardos. As formadas por
                                                                           maneira defendendo a pureza de ser nativo. Segundo
                           crioulos e por pardos agregavam em sua maioria
                                                                           as teorias racistas importadas pelo Brasil no final do
                           libertos, mas aceitavam escravos desde que seu acesso
                                                                           século  XIX,  havia  mais  valor  em  ser  negro  ou  branco
                           aos altos cargos da confraria fosse vetado .
                                                            18
                                                                           “puro”, ou seja, sem mistura com outra raça, do que ser
                           Certas irmandades de negros, principalmente crioulos,   mestiço. Tentando responder a essas ideias, os mestiços,
                           aceitavam pessoas brancas abastadas e pardos libertos   assumindo uma identidade nacional de brasileiro nato,
                           em razoável situação financeira. No entanto, pardos e
                           brancos geralmente não tinham interesse em pertencer   19   Idem, ibidem, p. 162-163.
                           a confrarias negras. Alguns poucos brancos de destaque
                           na  sociedade  eram  cooptados  por  irmandades  de
                           cor para servirem como uma espécie de patrono, que
                           também contribuía para os fundos da confraria. Essa
                           relação causava satisfação, além de conferir certo status
                           ao benemérito.

                            17   REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres
                            e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo:
                            Companhia das Letras, 1991, p. 51-53.
                            18   VIANA, Larissa. O idioma da mestiçagem.
                            Campinas: Unicamp, 2007, p. 157.



                    Localização aproximada
                    da Igreja de Guadalupe,
                       com base nos dados
    238                coletados pelo GPR.







                                                                                              ArqueologiA no Pelourinho
   232   233   234   235   236   237   238   239   240   241   242