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ALGUNS RESULTADOS INÉDITOS
caso da Irmandade da Ordem Terceira de São Francisco Os pardos normalmente não participavam dos grupos de
e da Santa Casa de Misericórdia . negros. Eles não gozavam de status social, e desejando
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adquiri-lo preferiam ficar o mais distante possível de
Algumas irmandades eram formadas especificamente
seu passado ligado à escravidão. Mesmo os pardos
por negros, africanos ou crioulos, e por pardos, pois
nascidos livres sofriam sanções sociais baseadas na cor
a Igreja Católica visava difundir o catolicismo entre as
da pele e eram impedidos, por exemplo, de participar
camadas inferiores da sociedade. As irmandades de
de confrarias ligadas a atividades profissionais por não
africanos eram divididas etnicamente, pelo menos
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terem a “pureza de sangue” exigida por elas . Entre
até a primeira metade do século XIX, período de
africanos (negros) e estrangeiros (brancos) estavam os
entrada maciça de escravos no Brasil, e rejeitavam
brasileiros mestiços almejando a ascensão, e de certa
veementemente crioulos e pardos. As formadas por
maneira defendendo a pureza de ser nativo. Segundo
crioulos e por pardos agregavam em sua maioria
as teorias racistas importadas pelo Brasil no final do
libertos, mas aceitavam escravos desde que seu acesso
século XIX, havia mais valor em ser negro ou branco
aos altos cargos da confraria fosse vetado .
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“puro”, ou seja, sem mistura com outra raça, do que ser
Certas irmandades de negros, principalmente crioulos, mestiço. Tentando responder a essas ideias, os mestiços,
aceitavam pessoas brancas abastadas e pardos libertos assumindo uma identidade nacional de brasileiro nato,
em razoável situação financeira. No entanto, pardos e
brancos geralmente não tinham interesse em pertencer 19 Idem, ibidem, p. 162-163.
a confrarias negras. Alguns poucos brancos de destaque
na sociedade eram cooptados por irmandades de
cor para servirem como uma espécie de patrono, que
também contribuía para os fundos da confraria. Essa
relação causava satisfação, além de conferir certo status
ao benemérito.
17 REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres
e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo:
Companhia das Letras, 1991, p. 51-53.
18 VIANA, Larissa. O idioma da mestiçagem.
Campinas: Unicamp, 2007, p. 157.
Localização aproximada
da Igreja de Guadalupe,
com base nos dados
238 coletados pelo GPR.
ArqueologiA no Pelourinho