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“gringos” e “ONGs” americanas estão invadindo a Amazônia, aí o povo grita. Multiplicam-se
os discursos ufanistas. Porque, afinal, a “Amazônia é nossa”. Pelo jeito, tão nossa que
podemos acabar com ela. Gritar é fácil, pensar e se comprometer dá mais trabalho.
Tive o privilégio, por ser repórter e me interessar pela região, de conhecer várias
Amazônias. Tenho uma vida simples e todo o dinheiro que me sobra, quando sobra, uso para
conhecer o mundo da forma mais barata possível — e conheço menos do que gostaria, mas
mais do que a maioria. Posso afirmar, sem hesitação, que o lugar mais bonito que conheci,
até hoje, foi a Amazônia — a parte ainda salva dela. Acho que, em algum momento do ensino
médio ou fundamental, todos os estudantes deveriam conhecer uma parte da floresta, para
se apropriar dela no coração, desde cedo, como o meu amigo que partiu de férias para
Mamirauá e navegou pelo Solimões ao sabor das histórias do povo da floresta. Aí, sim,
poderíamos dizer que a Amazônia é nossa.
Por enquanto, o descaso real com que acompanhamos o noticiário mostra que a Amazônia
só é uma posse no imaginário da população. Mas não há uma apropriação real, concreta,
que se traduza em preocupação e em cuidado com aquilo que se ama. Porque a floresta,
para a maioria dos brasileiros, segue sendo apenas uma abstração.
Não, não são os gringos que estão dilapidando a Amazônia. Se a culpa fosse deles, seria
bem mais fácil. Somos nós mesmos. E estamos à beira de sermos coniventes com mais dois
golpes de morte: o novo Código Florestal e a aprovação descuidada da usina de Belo Monte.
6 de junho de 2011