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Na rede, tudo virou a mesma coisa — e confundi-las me parece muito perigoso. Porque,
se começarmos a tratar da mesma maneira uma mulher amamentando seu bebê e um ato
de pedofilia, logo não saberemos mais a diferença. E, se não soubermos mais a diferença,
não haverá mesmo como prevenir e punir o crime.
O outro ponto que deve fazer a sirene da nossa cabeça tocar ruidosamente diz respeito à
legislação. Para criar ou alterar uma lei em um país democrático, é necessário antes que o
texto seja discutido e aprovado pelo Legislativo. E, ultimamente no Brasil, pela indigência
dessa instância, algumas questões cruciais têm sido debatidas e decididas pelo Supremo
Tribunal Federal. No processo democrático, o debate se estabelece na imprensa e nas ruas,
as opiniões se digladiam, e o cidadão influencia nas decisões, seja pelo seu voto, seja pelo
seu poder de manifestação. Do mesmo modo, a polícia precisa de autorização judicial para
grampear alguém dentro da lei.
Na internet, não. Há uma espécie de polícia virtual, transnacional e privada atuando em
nossas vidas como bem entende. Porque, para esta “polícia”, não somos cidadãos — mas
clientes (ou customers, já que a comunicação, em geral, é em inglês). Quantos de nós, no
planeta inteiro, têm seu cotidiano ligado a marcas como Microsoft, Google, Apple, Facebook,
Twitter, etc.? Me parece que não temos percebido que vivemos sob suas leis. E uma delas
nos diz que o banho de nossos bebês ou o momento da amamentação é um ato de pedofilia.
A partir do momento em que vasculham nossos arquivos e recebemos o aviso de que
estamos violando sua política de uso, nossa escolha é aceitar o veredicto e retirar as imagens
do ar, quando não as eliminam por conta própria, ou sermos banidos desse mundo.
Supostamente seria uma escolha estar ou não na rede, usar ou não a mercadoria que
oferecem. De fato, cada vez mais deixa de ser uma escolha, já que boa parte da população
do planeta não pode mais conceber sua vida pessoal e profissional sem estar nesses
conglomerados virtuais — usando e-mails, programas e aplicativos, pesquisando,
interagindo e produzindo conteúdo para sites e blogs, participando ativamente das redes
sociais.
Como disse Kalu Brum para esta coluna: “Tive de concordar que li e aceitei os termos de
uso do Facebook de que a foto feria as regras. Fiquei indignada e por isso pensei em sair da
rede. Vejo tantas fotos com pessoas de decote, shorts minúsculos, por que uma foto de
amamentação, em que o mamilo nem aparecia, estava sendo retirada? Imediatamente
pensei que poderia usar a própria rede social para mobilizar mulheres a trocarem suas fotos
do perfil”.
Acho ótimo que alguém tenha decidido reagir e torço para que o “mamaço” organizado
por Kalu surta algum tipo de efeito no Facebook. Mas sabemos o tamanho e o poder dessa
rede com mais de 600 milhões de usuários no planeta — e como é difícil atingi-la ou
influenciá-la. Não é por acaso que a manifestação contrária à política da rede social aconteça