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soro  com  ocitocina  (medicamento  usado  para  aumentar  a  frequência  e  a  força  das
        contrações). Arthur desembarcou do útero no seu tempo, forte e saudável. E Luciana deu à

        luz inspirada nas suas avós, Aurora e Antônia. “Foi um daqueles momentos que fazem a vida
        valer a pena”, diz Luciana. “Fui a protagonista da minha história.”
          E foi assim que outra história começou — a do livro. Ao refletirem sobre sua experiência,

        Marcelo e Luciana perceberam que valia a pena documentar o parto natural, comum na
        maioria dos países da Europa, mas uma exceção no Brasil, um país com índice de cesariana

        superior  a  80%  nas  mais  conceituadas  maternidades  privadas.  A  recomendação  da
        Organização Mundial de Saúde (OMS) é de no máximo 15%.
          Durante quatro anos, Marcelo e Luciana acordaram na madrugada com telefonemas do

        tipo:  “Vai  nascer!”  ou  “Começou!”.  Marcelo  empunhava  a  câmera  fotográfica  e  partia
        correndo para não perder o parto dos filhos dos outros. Depois, Luciana fazia uma longa

        entrevista com cada uma das mulheres em suas casas, para que contassem sua trajetória a
        partir do seu próprio olhar. Os textos do livro são na primeira pessoa e cada um deles traz o
        jeito particular da autora daquele parto. A cada final de capítulo, há uma seção de perguntas

        e  respostas  feitas  com  conhecimento,  precisão  e  responsabilidade,  que  esclarecem  as
        questões trazidas na narrativa.

          Como os meses de uma gestação, são nove histórias de mulheres — e de homens — que
        decidiram se tornar protagonistas do nascimento de seus filhos. Cada uma delas com seu
        próprio caminho, suas possibilidades, seus conflitos e também seus limites. Cada capítulo

        nos dá uma história contada em duas linguagens — o texto e a fotografia. E ao final de cada
        um deles sofremos e nos alegramos junto com aqueles homens e mulheres — e bebês lindos

        e amarrotados — que passamos a sentir como se fossem da família.
          Parto com amor é um livro que registra um dos movimentos mais interessantes deste início
        de milênio: a decisão das mulheres de recuperarem a posse do corpo em um momento

        crucial  da  vida  —  o  parto  do  filho.  Elas  passaram  a  perceber  que  dar  à  luz  não  é  um
        procedimento técnico apenas, mas algo que vai definir uma questão determinante para tudo

        o que vem depois: o nascimento de uma mãe.
          No primeiro capítulo, há uma foto de Luciana berrando na banheira. Sim, parto dói, mas
        há uma diferença fundamental, que a maioria das pessoas parece ter se esquecido, entre

        dor e sofrimento. A do parto é uma dor que não vem da doença e da morte, mas da saúde e
        da vida. É uma passagem. A mãe está junto com seu filho, ajudando-o em sua estreia na vida
        que se inicia fora do útero materno. E poder berrar, sem que nenhum obstetra ou enfermeiro

        torça o nariz, é libertador.
          As decisões tomadas no parto e a forma como cada mulher lida com a gestação são parte

        da construção da maternidade que também ali se inicia. E para cada filho — e não apenas o
        primeiro — há uma mãe diferente que nasce. Assim como a forma que cada homem lida e
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