Page 141 - C:\Users\Leal Promoções\Desktop\books\robertjoin@gmail.com\thzb\mzoq
P. 141

participa — e a sua presença ou ausência nesse momento — também é determinante para
        a paternidade que se inicia, para o pai que também nasce.

          Assumir a responsabilidade de parir é uma etapa essencial do processo de fundação e de
        autoconhecimento da família recém-nascida. Assim como delegar todas as decisões do parto
        para a autoridade médica também é, pelo avesso. Tanto um caminho quanto o outro têm

        significados e consequências.
          Na maioria dos países desenvolvidos, a cesariana não é uma escolha, como é no Brasil. Mas

        um procedimento de grande seriedade, como qualquer cirurgia, realizado apenas quando
        necessário. E só é necessário quando há risco comprovado para a mulher e para o bebê,
        quando é de fato a melhor alternativa para a mulher e para o bebê.

          Se essa fosse a verdade do atendimento às gestantes no Brasil, por que só as brasileiras
        teriam indicação de cesariana em mais de 80% dos nascimentos nas maternidades privadas

        — e não os 15% previstos pela OMS? Será que as brasileiras são diferentes das demais
        mulheres do mundo? Teriam um corpo diferente, que as impossibilita de parir seu filho de
        forma natural?

          É ótimo estarmos vivendo um momento da Medicina no qual, quando há risco para a mãe
        ou para o bebê, é possível fazer uma cirurgia. É uma pena que um número significativo de

        cesarianas seja realizado todos os dias não por necessidade real, mas por comodidade do
        médico e da mulher. E, mais triste ainda, que um número considerável seja feito à revelia da
        mulher.

          Diante dessa realidade e da sensação de que algo estava errado na experiência vivida nos
        consultórios e nos hospitais, em diferentes partes do país mulheres começaram a reagir. Sem

        encontrar respostas nos lugares óbvios, em geral contaminados pela cultura da cesariana e
        pela ideia da autoridade inquestionável do médico, elas passaram a criar grupos de discussão
        e de pesquisa na internet. Ao voltarem arrasadas das consultas, mães de primeira viagem

        encontravam pelo Google mães mais desenvoltas, que respondiam suas perguntas e lhes
        davam orientação.

          Pela internet, tornou-se possível recuperar uma tradição perdida: a das mulheres mais
        velhas ou experientes que compartilham seu conhecimento com as mais novas. A velha
        sabedoria das mães e das avós, só que a rede virtual e as mudanças culturais do nosso tempo

        tornaram esta uma família expandida. Hoje, há centenas de sites, blogs e listas de discussão
        de  mulheres  sobre  gestação  e  parto.  É  possível,  inclusive,  assistir  a  partos  pela  tela  do
        computador, em tempo real. Em algumas cidades brasileiras, profissionais da saúde adeptos

        do parto natural e humanizado formaram grupos nos quais as mulheres fazem cursos e
        trocam experiências. Trocam também indicações de doulas, parteiras, obstetras e pediatras

        que vão respeitar suas escolhas, manter seu bebê junto delas e só realizar uma cesariana se
        for realmente necessário.
   136   137   138   139   140   141   142   143   144   145   146