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Bebês censurados















        Um pai levou sua filha à cidade onde viveu boa parte da vida para apresentá-la às pessoas
        mais queridas. Para receber sua família, foi preparado um jantar caprichado na casa da
        madrinha  do  bebê.  Como  o  aniversário  do  pai  aconteceria  dias  mais  tarde,  os  amigos

        decidiram lhe dar um álbum de fotos desse acontecimento tão especial e planejado desde
        que a criança nasceu. E, assim, a fotógrafa amadora do grupo, que também é o meu, dedicou-

        se a registrar todos os momentos.
          Tão logo a fotógrafa editou as fotos, colocou-as num álbum do Hotmail que pudesse ser
        compartilhado pelo número restrito de pessoas que haviam participado da festa. Algum

        tempo depois, ela recebeu um aviso enorme da Microsoft, em inglês, que, resumidamente,
        dizia o seguinte: “Nós encontramos imagens envolvendo nudez de crianças em sua conta. Se

        você não retirá-las em 48 horas, seremos obrigados a cancelar esta e outras contas. Essa
        política busca reduzir os riscos na comunidade online. A Microsoft leva a sério a segurança
        das  crianças.  As  violações  incluem  nudez,  nudez  parcial,  pornografia,  assédio,

        comportamento ilegal ou ofensivo”.
          Minha amiga demorou algum tempo para encontrar alguma pista sobre o crime do qual

        estava sendo acusada, ao fotografar episódio tão amoroso. Repassou as fotos e descobriu:
        havia pelo menos duas fotos dos pais com o bebê durante o banho. E ninguém ali tinha uma
        mente  tão  perversa  a  ponto  de  pensar  que  aquele  momento  inocente  pudesse  ser

        remotamente  confundido  com  algum  tipo  de  pornografia  ou  ato  pedófilo  que  exigisse
        providenciar o impossível: um banho de roupa no bebê.

          Assustadíssima, minha amiga tirou o álbum inteiro da rede. A situação me pareceu surreal.
        Mais ainda porque, entre as muitas ironias, está o fato de que a suspeita é uma jornalista
        que  se  especializou  e  se  dedicou  à  cobertura  dos  direitos  humanos  de  crianças  e

        adolescentes nos últimos 20 anos. Por sua atuação nessa área é convidada a dar palestras e
        oficinas no Brasil e fora dele. E já ganhou prêmios por seu trabalho. De fato, não haveria

        ninguém mais improvável do que ela de cometer algum ato de pedofilia contra um bebê ou
        disseminar pornografia infantil na internet.
          Na mesma semana, a imprensa noticiou que a jornalista Kalu Brum tinha sido censurada

        na mais poderosa rede social do planeta, o Facebook, após postar uma foto amamentando
        seu filho. Em 10 de maio, Kalu recebeu a seguinte mensagem: “Olá. Você carregou uma foto
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