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banheira improvisada. Foi lá que Luciana começou a dar aqueles berros primais e
libertadores, porque dói mesmo, para algumas mulheres mais do que para outras. E de novo
fico pensando no que o pobre porteiro deve ter imaginado quando os vizinhos começaram
a interfonar.
Arthur, pelo menos, resolveu espiar o que estava acontecendo. Aos quatro anos, ele
desembarcou da cama esfregando os olhos de amêndoa e encontrou uma festa na sala.
Como Luciana sabia que nada melhor do que um bom berro quando a contração chegava
mais forte, percebeu que precisaria explicar ao menino o que estava acontecendo, antes que
ele se desesperasse. “Filho, para o irmãozinho sair da barriga, a mamãe vai ter que dar uns
gritos de leão.” Arthur é louco por qualquer bicho — mas rei é rei, e rainha melhor ainda.
Adorou. E a partir daí, sempre que sua mamãe leoa berrava, ele ria e batia palmas na maior
empolgação. Foi assim que Pedro escorregou para o mundo. Marcelo e Arthur, pai e filho,
cortaram o cordão umbilical. E depois de um soninho gostoso, Luciana acordou pela manhã
com os dois filhos ao seu lado e um café na cama preparado pelo Marcelo. O melhor pão
com requeijão da sua vida.
Essa história é contada em livro pelos protagonistas, a jornalista Luciana Benatti e o
fotógrafo Marcelo Min. Parto com amor (Panda Books) é a narrativa de uma trajetória que
começou em 2007, com a gestação de Arthur, o orgulhoso animador de partos do parágrafo
anterior. E só terminou em 2010, com o nascimento de Pedro.
Ao ficar grávida pela primeira vez, Luciana queria ter parto normal, mas nunca tinha ouvido
falar de “parto humanizado”. Como boa parte dos médicos, o dela disse: “Parto normal é o
melhor para a mãe e para o bebê”. Mas não respondia e até se irritava com as perguntas de
Luciana. “O que mais a senhora quer saber?” Um dia Luciana, já com um barrigão de 35
semanas, ouviu de uma amiga: “Mas você tem certeza? Muitos médicos dizem que fazem (o
parto normal), mas na hora inventam uma desculpa para a cesárea”.
Luciana ficou bem irritada com a amiga que duvidava do seu médico naquela altura da
gestação. Mas o comentário permaneceu fincado como um alfinete na sua cabeça. Na
consulta seguinte, diante de seus questionamentos, o médico soltou esta pérola: “Por que
você está tão preocupada com o parto? Cuide das roupinhas e da decoração do quarto e
deixe que do parto cuido eu”.
Não era essa a ideia que Luciana e Marcelo compartilhavam sobre o parto do seu filho.
Eles tinham certeza de que quem tinha de cuidar do nascimento do bebê eram eles — e
especialmente Luciana, com o apoio de Marcelo. Nunca mais voltaram ao consultório do
médico, que também jamais os procurou para perguntar o porquê.
Um mês depois Arthur nasceu num parto natural na banheira da maternidade de um
hospital, sem anestesia, sem episiotomia (o corte que obstetras costumam fazer no períneo
da gestante, com a justificativa de que ajuda no nascimento e evita lesões maiores) e sem