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Sempre me perguntam por que me tornei repórter, e eu sempre dou a mesma resposta:
para descobrir o que dá sentido à existência de cada um e para compreender como cada
pessoa — em geral com muito pouco — reinventa a sua história. Só depois de assistir a esse
filme e ser tomada por ele, eu percebi que, como contadora de histórias reais, o que busco
é a poesia — singular, única e intransferível — que cada um arranca dos dias, da máquina de
moer carne humana que é a vida, mesmo que às vezes não saiba.
Em uma das tantas cenas lindas do filme, o professor pede a cada aluno para contar o
melhor momento da sua vida. São todos adultos, em geral sofridos, e estão lá em busca de
sentido. Uma mulher conta que sua memória mais feliz foi ensinar sua avó a cantar antes de
morrer. Mija descreve a cena da infância na qual descobriu que era amada pela irmã. Um
homem diz que teve uma existência muito dura e sem nenhum episódio feliz. Então ele
lembra que por décadas viveu num porão e agora, quando se transferiu para a cidade, alugou
um apartamento barato e ficou lá rolando pelo chão. Havia sido, sim, um momento muito
feliz.
Acho que esse exercício pode nos ajudar a perceber a poesia que dá sentido à vida dentro
de nós.
14 de março de 2011
16 Poesia é dirigido por Lee Chang-dong (2010, Coreia do Sul).
Parto com prazer
“Acho que exagerei na lasanha de berinjela”, comentou Luciana Benatti com o marido,
Marcelo Min. Passava das dez da noite e Luciana, com 37 semanas e quatro dias de gestação,
tinha sentido uma dorzinha. Não era a lasanha. Era Pedro, mas naquele momento ninguém
sabia que ele se chamaria Pedro, porque os pais achavam que ainda teriam alguns dias de
gestação para decidir o nome e preferiam descobrir o sexo apenas quando o bebê se
apresentasse. Na madrugada, primeiro chegou a doula. Depois a pediatra. Em seguida a
obstetra. Daria qualquer coisa para saber o que o porteiro do edifício no bairro de Pinheiros,
em São Paulo, imaginou ao ver três mulheres chegando de malinha no meio da noite. Tudo
— de assassinato a orgia —, menos que alguém daria à luz no sétimo andar.
De repente, já havia uma piscina inflável no meio da sala, decorada com uma alegre fauna
marinha. E uma mangueira de 50 metros levava água quente do velho Lorenzetti até a