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ambiental do país. Isso dito não por mim — mas por gente que dedicou a vida a estudar o
        tema. E ninguém faz passeata nas capitais.

          A bacia do Xingu, onde o governo quer construir a usina de Belo Monte, é a moradia de 28
        etnias indígenas, 440 espécies de aves, 259 de mamíferos e 387 de peixes. A obra vai deslocar
        pelo menos 20 mil pessoas de suas casas e outras 100 mil poderão migrar para uma região

        conhecida pelos conflitos de terra. O lago ocupará uma área equivalente a um terço da
        cidade de São Paulo. Como afirmou a exministra do Meio Ambiente Marina Silva, a previsão

        é de que algo em torno de 210 milhões de metros cúbicos, só um pouco menos que o volume
        subtraído para a construção do Canal do Panamá, seja retirado para a escavação dos canais.
        Sem contar a duvidosa viabilidade econômica do megaprojeto tocado pelo consórcio Norte

        Energia, que já sofreu várias desistências. Nem se sabe direito quanto a obra vai custar, já
        que os cálculos mudam a todo momento. Seja você contra ou a favor ou mesmo sem opinião

        formada, há de concordar que uma obra desta proporção, que vai alterar todo o ecossistema
        de uma região vital para o país e para o planeta, não pode ser construída sem cuidados
        rigorosos e respostas claras.

          Tudo  isso  se  desenrola  numa  época  em  que  a  implantação  de  grandes  obras  como
        hidrelétricas na Amazônia são questionadas como solução para o problema da energia no

        país por gente respeitável. Mas, cada vez que alguém ousa ter uma opinião dissonante ou
        fazer perguntas perfeitamente lógicas, imediatamente é “acusado” de ambientalista radical.
        Quando  não  culpado  pelo  déficit  energético  do  país,  como  se  a  única  alternativa  fosse

        destruir o meio ambiente em prol do desenvolvimento. É complicado mesmo conciliar a
        geração de energia com a preservação socioambiental, mas não há escolha nesse momento

        histórico — e chegamos a esse impasse porque demoramos a acordar (se é que acordamos).
        É para encontrar soluções responsáveis que tanta gente estuda e tanto dinheiro público é
        gasto. Se fosse fácil, qualquer um faria.

          Belo  Monte,  por  exemplo,  é  anunciada  há  uns  20  anos.  E  sempre  que  foi  anunciada
        colaborou para acirrar os conflitos de terra na região de Altamira, no Pará. Onde já vive uma
        parcela considerável dos abandonados da Transamazônica e dos projetos megalômanos de

        ocupação  da  floresta  promovidos  pela  ditadura  militar.  No  Avança  Brasil,  de  Fernando
        Henrique Cardoso, a retomada de Belo Monte estava prevista, e o mero anúncio triplicou a

        população da miserável Anapu, multiplicando os conflitos de terra na região. Não foi por
        obra do acaso que a missionária Dorothy Stang foi assassinada em Anapu. Mas a relação
        entre uma coisa e outra em geral é convenientemente esquecida.

          Parece que a maioria pouco se importa, de fato, com o destino da Amazônia. Exceto os
        que vêm lutando e morrendo por ela, como aconteceu com quatro brasileiros entre 24 e 28
        de maio — José Cláudio Ribeiro da Silva, Maria do Espírito Santo da Silva, Adelino Ramos e

        Eremilton Pereira dos Santos. Agora, se alguém lançar um spam na internet dizendo que
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