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que Lula não estivesse tentando fazer seu sucessor na presidência. Um bom filme, que não
        fizesse dele um super-homem, nem um santo, nem um cara sem sal. Espero que algum

        cineasta de talento encare essa empreitada daqui a uns anos.
          Ao transformar Lula nesse cara que não faz nada errado, sequestra-se da história de todos
        nós um patrimônio fundamental da eleição de Lula para presidente do Brasil: a identificação

        que  a  maioria  dos  brasileiros  pobres  tem  com  a  trajetória  de  Lula.  Todos  nós,  mortais,
        erramos, temos conflitos, somos contraditórios, falamos besteira, derrapamos em covardias,

        nos arrependemos de muita ou pouca coisa. A identificação de um número significativo de
        brasileiros com Lula, em parte, se dá por essa certeza de que Lula poderia estar sentado na
        mesa de bar com cada um, tomando uma, falando de futebol ou de mulher ou jogando truco.

        Mas também pela possibilidade que ele representa na vida de cada um de superar a pobreza
        num país tão desigual e se transformar em presidente com tudo o que é. Quando Lula se

        transforma num predestinado, caso do personagem do filme, esse rico patrimônio simbólico
        se perde.
          Prefiro o Lula que disse à Denise Paraná, quando ela pergunta a ele se acredita ter algum

        tipo de “inteligência especial”: “Eu não me considero burro, tenho clareza de que não sou
        burro. Agora, que eu não tenho nada de especial, isso eu não tenho. Não tenho, não tenho

        nenhuma inteligência especial. Eu apenas sei utilizar a minha”.
          O maior defeito do filme é não estar à altura da história. Nem à altura do homem. Lula, o
        filho de dona Lindu, é bem mais fascinante do que Lula, o filho do Barretão.


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        Me pergunto se hoje Lula repetiria o pedido feito à sua biógrafa, de contar uma história real,
        que não lhe puxasse o saco nem lhe sacaneasse, que não o transformasse em santo ou super-

        herói. Ousaria arriscar que não. Minha hipótese, infelizmente, é que, depois de sete anos no
        poder, Lula passou a acreditar que é um pouco dos dois, santo e super-herói. E gosta mais

        do que seria prudente de que todos lhe puxem o saco.
          Como todo mundo, eu gosto de estar certa. Mas seria bem melhor para mim e para todos
        os brasileiros, especialmente para Lula, que eu esteja errada.

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        5 Lula: o filho do Brasil é dirigido por Fábio Barreto, com roteiro de Daniel Tendler, Denise Paraná e Fernando Bonassi e produção da LC Barreto (2009, Brasil).
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