Page 196 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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clareza mental, diferente de tudo o que jamais havia experimentado. Pense! Langdon examinou a grade
com atenção em busca de alguma pista — um padrão, uma palavra oculta, um ícone especial, qualquer
coisa —, mas tudo o que viu foi um amontoado de símbolos desassociados. Caos.
A cada segundo que passava, Langdon sentia um entorpecimento sinistro tomar conta de seu
corpo. Era como se sua própria carne estivesse se preparando para proteger a mente da dor da morte.
A água já ameaçava entrar em seus ouvidos, e ele ergueu o máximo possível a cabeça, pressionando-a
contra a tampa. Imagens assustadoras começaram a desfilar diante de seus olhos. Um menino
tentando se manter à tona no fundo de um poço escuro na Nova Inglaterra. Um homem em Roma preso
debaixo de um esqueleto sob um caixão virado.
Os gritos de Katherine foram ficando mais histéricos. Até onde Langdon podia escutar, ela
estava tentando racionalizar com um louco — insistindo que era impossível Langdon decifrar a pirâmide
sem visitar o Templo de Almas.
— É óbvio que esse prédio tem a peça que falta para o quebra-cabeça! Como Robert pode
decifrar a pirâmide sem todas as informações?
Langdon sentiu-se grato pelas tentativas dela, no entanto estava certo de que “Eight Franklin
Square” não apontava para o Templo de Almas. A linha do tempo está toda errada! Segundo a lenda, a
Pirâmide Maçônica tinha sido criada na primeira metade do século XIX, décadas antes de os shriners
sequer existirem. Na verdade, percebeu Langdon, ela provavelmente remonta a uma época em que
aquela praça nem mesmo se chamava Franklin Square. Era impossível o cume estar apontando para
um prédio não construído em um endereço inexistente. Fosse o que fosse que “Eight Franklin Square”
indicava... tinha que existir em 1850.
Infelizmente, Langdon não estava conseguindo encontrar nenhuma solução.
Ele vasculhou seus bancos de memória à procura de qualquer coisa que pudesse se encaixar na
linha do tempo. Eight Franklin Square? Algo que já existia em 1850? Não achou nada.
O líquido começava a entrar em seus ouvidos. Lutando contra o próprio terror, olhou para a
grade de símbolos sobre o vidro. Não entendo qual é a ligação! Em um frenesi, sua mente começou a
traçar todos os paralelos improváveis capaz de produzir.
Eight Franklin Square... além de praça, square significa quadrado... quadrados... a grade de
símbolos é um quadrado... outro significado é esquadro... o esquadro e o compasso são símbolos
maçônicos... os altares maçônicos são quadrados... quadrados têm ângulos de 90 graus. A água
continuava a subir, mas Langdon tentou não pensar naquilo. Eight Franklin Square... o número oito...
essa é uma grade de oito por oito... Franklin tem oito letras... oito virado de lado é o símbolo do infinito:
oito é o número da destruição na numerologia...
Langdon não conseguia entender.
Do lado de fora do tanque, Katherine continuava a suplicar, mas, àquela altura, a água em volta
da cabeça de Langdon só deixava que ele ouvisse frases entrecortadas.
—... impossível sem saber... a mensagem do cume claramente... o segredo se esconde dentro...
Então a voz dela sumiu.
A água entrou de vez nos ouvidos de Langdon, abafando o que restava da voz de Katherine. Um
súbito silêncio, como se estivesse num útero, o engolfou, e Langdon percebeu que iria mesmo morrer.
O segredo se esconde dentro...
As últimas palavras de Katherine ecoaram pelo silêncio de sua tumba.
O segredo se esconde dentro...
Estranhamente, Langdon percebeu que já havia escutado essas mesmas palavras muitas vezes.
O segredo se esconde... dentro.
Mesmo naquele momento, parecia que os Antigos Mistérios o desafiavam. “O segredo se
esconde dentro” era o principal preceito deles, que instava o homem a buscar Deus não nas alturas do
céu... mas sim dentro de si mesmo. O segredo se esconde dentro. Era essa a mensagem de todos os
grandes mestres místicos.
O reino de Deus está entre vós, disse Jesus Cristo.
Conhece-te a ti mesmo, disse Pitágoras.
Não sabeis que sois deuses, disse Hermes Trismegisto.
A lista não tinha fim...
Todos os ensinamentos místicos ao longo da história haviam tentado transmitir essa mesma
ideia, O segredo se esconde dentro. Apesar disso, a humanidade continuava a procurar no céu a face
de Deus.
Para ele, tomar consciência disso naquele instante tornou-se a maior de todas as ironias. Com
os olhos voltados para o céu como todos os cegos que o haviam precedido, Robert Langdon de repente
viu a luz.