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esperança. O mundo externo não passava de uma mancha enevoada de luz do outro lado da janela. Os
          músculos de seu tronco haviam começado a queimar, e ele soube que a hipóxia estava começando.
                 De repente, um rosto belo e espectral apareceu, olhando para ele. Era Katherine, seus traços
          suaves  parecendo  quase  etéreos  através  do  véu  líquido.  Os  dois  pares  de  olhos  se  encontraram,
          separados  pela  janela  de  vidro,  e  por  um  segundo  Langdon  pensou  que  estivesse  salvo.  Katherine!
          Então escutou os gritos de horror abafados e percebeu que era seu captor que a estava segurando ali.
          O monstro tatuado a estava forçando a assistir ao que estava prestes a acontecer.
                 Katherine, sinto muito...
                 Naquele lugar estranho e escuro, preso debaixo d’água, Langdon lutou para compreender que
          aqueles seriam seus últimos instantes de vida. Ele logo deixaria de existir... tudo o que ele era... tudo o
          que  tinha  sido..,  tudo  o  que  poderia  ser  um  dia...  estava  acabando.  Quando  seu  cérebro  morresse,
          todas  as  lembranças  armazenadas  em  sua  massa  cinzenta,  assim  como  todo  o  conhecimento  que
          havia acumulado, simplesmente evaporariam em uma enxurrada de reações químicas.
                 Naquele  instante,  Robert  Langdon  tomou  consciência  de  sua  verdadeira  insignificância  no
          Universo. Nunca havia se sentido tão solitário e humilde. Ficou quase aliviado ao sentir que logo não
          conseguiria mais segurar a respiração.
                 Havia chegado a hora.
                 Os  pulmões  de  Langdon  expeliram  seu  conteúdo,  contraindo-se  em  uma  ansiosa  preparação
          para inspirar. Ainda assim, ele aguentou mais alguns instantes. Seu último segundo. Então, como um
          homem que não suporta mais manter a mão perto de um fogo aceso, ele se rendeu ao destino.
                 O reflexo superou a razão.
                 Seus lábios se abriram.
                 Seus pulmões se expandiram.
                 E o líquido entrou em profusão.
                 A  dor  que  encheu  seu  peito  foi  maior  do  que  Langdon  jamais  poderia  imaginar.  O  líquido
          queimava ao entrar em seus pulmões. Na mesma hora, a dor se irradiou para seu crânio e ele teve a
          sensação  de  que  um  torno  lhe  esmagava  a  cabeça.  Um  grande  estrondo  soou  em  seus  ouvidos  e,
          durante todo esse tempo, Katherine Solomon não parou de gritar.
                 Houve um clarão de luz ofuscante.
                 E então tudo ficou negro.
                 Robert Langdon se foi.




          CAPÍTULO 104


                 Acabou.
                 Katherine Solomon tinha parado de gritar, O afogamento ao qual havia acabado de assistir a
          deixara catatônica, praticamente paralisada de choque e desespero.
                 Debaixo  da  janelinha  de  vidro,  os  olhos  mortos  de  Langdon  pareciam  olhar  para  o  vazio.  A
          expressão congelada em seu rosto era de dor e arrependimento. As últimas minúsculas bolhas de ar
          escaparam de sua boca sem vida, e então, como se finalmente concordasse em partir, o professor de
          Harvard começou a mergulhar lentamente para o fundo do tanque... onde sumiu nas sombras.
                 Ele se foi. Katherine estava anestesiada.
                 O homem tatuado estendeu a mão para baixo e, com um fatalismo cruel, deslizou a janelinha até
          ela fechar, lacrando o cadáver de Langdon lá dentro.
                 Então sorriu para Katherine.
                 — Vamos?
                 Antes que ela pudesse reagir, o homem jogou-a por cima do ombro, apagou a luz e carregou-a
          para fora dali. Com alguns passos largos, transportou Katherine até o final do corredor para um espaço
          maior, que parecia banhado em uma luz roxo-avermelhada. O cômodo recendia a incenso. Ele a levou
          até uma mesa quadrada no centro e a deixou cair pesadamente de costas, expulsando o ar de seus
          pulmões. A superfície era áspera e fria. Isso é pedra?
                 Katherine nem teve tempo de se localizar, pois o homem estava em cima dela, retirando o arame
          de  seus  pulsos  e  tornozelos.  Instintivamente,  ela  tentou  se  desvencilhar,  mas  seus  braços  e  pernas
          dormentes mal reagiam. Seu algoz começou a prendê-la à mesa usando correias grossas de couro,
          passando uma delas por cima de seus joelhos e em seguida prendendo uma segunda ao longo dos
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