Page 198 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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esperança. O mundo externo não passava de uma mancha enevoada de luz do outro lado da janela. Os
músculos de seu tronco haviam começado a queimar, e ele soube que a hipóxia estava começando.
De repente, um rosto belo e espectral apareceu, olhando para ele. Era Katherine, seus traços
suaves parecendo quase etéreos através do véu líquido. Os dois pares de olhos se encontraram,
separados pela janela de vidro, e por um segundo Langdon pensou que estivesse salvo. Katherine!
Então escutou os gritos de horror abafados e percebeu que era seu captor que a estava segurando ali.
O monstro tatuado a estava forçando a assistir ao que estava prestes a acontecer.
Katherine, sinto muito...
Naquele lugar estranho e escuro, preso debaixo d’água, Langdon lutou para compreender que
aqueles seriam seus últimos instantes de vida. Ele logo deixaria de existir... tudo o que ele era... tudo o
que tinha sido.., tudo o que poderia ser um dia... estava acabando. Quando seu cérebro morresse,
todas as lembranças armazenadas em sua massa cinzenta, assim como todo o conhecimento que
havia acumulado, simplesmente evaporariam em uma enxurrada de reações químicas.
Naquele instante, Robert Langdon tomou consciência de sua verdadeira insignificância no
Universo. Nunca havia se sentido tão solitário e humilde. Ficou quase aliviado ao sentir que logo não
conseguiria mais segurar a respiração.
Havia chegado a hora.
Os pulmões de Langdon expeliram seu conteúdo, contraindo-se em uma ansiosa preparação
para inspirar. Ainda assim, ele aguentou mais alguns instantes. Seu último segundo. Então, como um
homem que não suporta mais manter a mão perto de um fogo aceso, ele se rendeu ao destino.
O reflexo superou a razão.
Seus lábios se abriram.
Seus pulmões se expandiram.
E o líquido entrou em profusão.
A dor que encheu seu peito foi maior do que Langdon jamais poderia imaginar. O líquido
queimava ao entrar em seus pulmões. Na mesma hora, a dor se irradiou para seu crânio e ele teve a
sensação de que um torno lhe esmagava a cabeça. Um grande estrondo soou em seus ouvidos e,
durante todo esse tempo, Katherine Solomon não parou de gritar.
Houve um clarão de luz ofuscante.
E então tudo ficou negro.
Robert Langdon se foi.
CAPÍTULO 104
Acabou.
Katherine Solomon tinha parado de gritar, O afogamento ao qual havia acabado de assistir a
deixara catatônica, praticamente paralisada de choque e desespero.
Debaixo da janelinha de vidro, os olhos mortos de Langdon pareciam olhar para o vazio. A
expressão congelada em seu rosto era de dor e arrependimento. As últimas minúsculas bolhas de ar
escaparam de sua boca sem vida, e então, como se finalmente concordasse em partir, o professor de
Harvard começou a mergulhar lentamente para o fundo do tanque... onde sumiu nas sombras.
Ele se foi. Katherine estava anestesiada.
O homem tatuado estendeu a mão para baixo e, com um fatalismo cruel, deslizou a janelinha até
ela fechar, lacrando o cadáver de Langdon lá dentro.
Então sorriu para Katherine.
— Vamos?
Antes que ela pudesse reagir, o homem jogou-a por cima do ombro, apagou a luz e carregou-a
para fora dali. Com alguns passos largos, transportou Katherine até o final do corredor para um espaço
maior, que parecia banhado em uma luz roxo-avermelhada. O cômodo recendia a incenso. Ele a levou
até uma mesa quadrada no centro e a deixou cair pesadamente de costas, expulsando o ar de seus
pulmões. A superfície era áspera e fria. Isso é pedra?
Katherine nem teve tempo de se localizar, pois o homem estava em cima dela, retirando o arame
de seus pulsos e tornozelos. Instintivamente, ela tentou se desvencilhar, mas seus braços e pernas
dormentes mal reagiam. Seu algoz começou a prendê-la à mesa usando correias grossas de couro,
passando uma delas por cima de seus joelhos e em seguida prendendo uma segunda ao longo dos