Page 202 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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imaginar como aquela grade caótica de símbolos pudesse subitamente fazer sentido em outra
disposição, tinha fé na antiga promessa.
Ordo ab chao.
Com o coração disparado, sacou uma folha de papel e desenhou rapidamente uma grade vazia
de oito por oito. Então começou a inserir os símbolos um a um em suas novas posições. Quase na
mesma hora, para seu espanto, a grade começou a fazer sentido.
Ordem a partir do caos!
Ele concluiu a decodificação e fitou, incrédulo, a solução à sua frente. Uma imagem clara havia
se formado. A grade embaralhada fora transformada... reorganizada... Embora Mal’akh não
conseguisse entender o significado de toda a mensagem, compreendia o bastante para saber
exatamente a direção que iria tomar.
A pirâmide aponta o caminho.
A grade indicava uma das grandes localidades místicas do mundo. Incrivelmente, era o mesmo
lugar onde Mal’akh sempre sonhara completar sua jornada.
Destino.
CAPÍTULO 107
A mesa de pedra sob as costas de Katherine Solomon estava fria.
Imagens horripilantes da morte de Robert se agitavam em sua cabeça. Além disso, ela não
conseguia parar de pensar no irmão. Será que Peter também está morto? A estranha faca na bancada
ao seu lado evocava visões do que poderia estar reservado para ela também.
Será que este é realmente o fim?
Por incrível que pareça, seus pensamentos se voltaram repentinamente para sua pesquisa...
para a ciência noética... e para suas descobertas recentes. Tudo perdido... transformado em fumaça.
Ela nunca poderia compartilhar com o mundo o que havia aprendido. Sua descoberta mais chocante
ocorrera poucos meses antes, e os resultados tinham potencial para redefinir a forma como os seres
humanos encaravam a morte. Estranhamente, pensar nessa experiência ali... lhe trazia um alento
inesperado.
Quando menina, Katherine Solomon havia se perguntado muitas vezes se existiria vida após a
morte. Será que o paraíso existe? O que acontece quando morremos? À medida que foi ficando mais
velha, seus estudos científicos logo eliminaram qualquer conceito fantasioso de paraíso, inferno ou
existência além-túmulo. Passou a aceitar que o conceito de “vida após a morte” era uma construção
humana.., um conto de fadas destinado a atenuar a terrível verdade da nossa mortalidade.
Até que...
Um ano antes, Katherine e o irmão estavam conversando sobre uma das questões mais perenes
da filosofia — a existência da alma —, e em particular se os humanos possuem ou não algum tipo de
consciência capaz de sobreviver fora do corpo.
Ambos intuíam que essa alma humana provavelmente existia. A maioria das filosofias antigas
também acreditava nisso. O budismo e o bramanismo endossavam a metempsicose — a reencarnação,
a transmigração da alma para um novo corpo após a morte. Os platônicos sustentavam que o corpo é
uma “prisão” da qual a alma escapa. E os estoicos a chamavam de apospasma tou theu — “uma
partícula de Deus” — e acreditavam que, na hora da morte, ela volta para junto Dele.
A existência da alma humana, percebeu Katherine com alguma frustração, era provavelmente
um conceito que jamais seria provado pela ciência. Confirmar que uma consciência sobrevive fora do
corpo humano após a morte equivalia a soltar uma nuvem de fumaça pela boca e esperar encontrá-la
anos depois.
Após a conversa com o irmão, Katherine teve uma ideia estranha. Peter havia mencionado o
Livro do Gênesis e sua descrição da alma como Neshemah — um sopro de vida, uma espécie de
“inteligência” espiritual separada do corpo. Ocorreu-lhe que a palavra inteligência sugeria a presença de
pensamento. A ciência noética propõe que os pensamentos têm massa, portanto, era lógico que a alma
humana também poderia ter.
Será possível pesar a alma humana?
Era um conceito absurdo, é claro... o simples fato de cogitar isso era tolice.
Três dias depois, Katherine despertou de repente de um sono pesado, sentando-se com as
costas retas na cama. Depois de se levantar com um pulo, foi de carro até o laboratório e começou