Page 204 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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corpo à ciência, então, quando expliquei minha ideia para esse experimento, ele quis participar na
mesma hora.
Peter parecia mudo de choque diante da cena que se desenrolava no telão.
O enfermeiro então se virou para a mulher do paciente.
— Está na hora. Ele está pronto.
A senhora de idade enxugou os olhos lacrimejantes e assentiu com uma calma decidida.
— Está bem.
Com muita delicadeza, o enfermeiro esticou a mão para dentro da cápsula e retirou a máscara
de oxigênio do velho. O homem se remexeu um pouco, mas continuou de olhos fechados. O enfermeiro
então afastou o respirador artificial e os outros equipamentos, deixando o velho dentro da cápsula
isolado no meio do quarto.
A mulher do moribundo se aproximou da máquina, curvou-se e beijou delicadamente a testa do
marido. O velho não abriu os olhos, mas seus lábios se moveram muito de leve, num sorriso fraco e
cheio de ternura.
Sem a máscara de oxigênio, a respiração do homem foi se tornando rapidamente mais penosa.
Era óbvio que o fim estava próximo. Com uma força e uma calma admiráveis, a mulher abaixou devagar
a tampa da cápsula, lacrando-a em seguida, exatamente como Katherine lhe ensinara.
Alarmado, Peter se retraiu.
— Pelo amor de Deus, Katherine, o que é isso?
— Está tudo bem — sussurrou ela. — Há bastante ar dentro da cápsula. — Katherine já havia
assistido àquele vídeo dezenas de vezes, mas as imagens ainda faziam sua pulsação se acelerar. Ela
apontou para a balança debaixo da cápsula lacrada do moribundo. O mostrador digital indicava:
51,4534644kg
— É o peso corporal dele — disse Katherine.
A respiração do homem ficou mais fraca, ao que Peter chegou mais perto do telão, fascinado.
— Era isso que ele queria — sussurrou ela. — Veja o que acontece.
A esposa do homem tinha recuado alguns passos e estava agora sentada na cama, assistindo
em silêncio ao lado do enfermeiro.
Durante os 60 segundos seguintes, a respiração fraca do homem foi ficando mais rápida até
que, de repente, como se houvesse escolhido o momento por conta própria, ele deu seu último suspiro.
Tudo parou.
Era o fim.
A mulher e o enfermeiro consolaram um ao outro em silêncio.
Nada mais aconteceu.
Alguns segundos depois, Peter olhou para Katherine, parecendo confuso.
Espere mais um instante, pensou ela, fazendo um gesto para que Peter continuasse olhando
para o monitor digital da cápsula que ainda brilhava discretamente, exibindo o peso do homem morto.
Foi então que aconteceu.
Quando Peter viu aquilo, deu um pulo para trás e quase caiu da cadeira.
— Mas... isto é... — Ele cobriu a boca, chocado. — Não pode ser...
Não era sempre que o grande Peter Solomon ficava sem palavras. Katherine tivera uma reação
parecida nas primeiras vezes que vira aquilo acontecer.
Segundos depois da morte do homem, os números da balança diminuíram de repente. Ele se
tornara mais leve imediatamente após a morte. A diferença de peso era minúscula, porém mensurável..,
e aquilo tinha implicações assombrosas.
Katherine se lembrava de ter feito suas anotações científicas com a mão trêmula: “Parece existir
um ‘material’ invisível que sai do corpo humano no momento da morte. Ele possui uma massa
quantificável que não pode ser contida por barreiras físicas. Sou obrigada a supor que se move em uma
dimensão que ainda não consigo apreender.”
Pela expressão chocada no rosto do irmão, Katherine soube que ele alcançava a importância de
seu experimento.
— Katherine... — gaguejou Peter, piscando os olhos cinzentos como se quisesse certificar-se de
que não estava sonhando. — Acho que você acabou de pesar a alma humana.
Houve um longo silêncio entre os dois.
Katherine sentiu que o irmão tentava processar todas as sérias e impressionantes implicações
daquilo. Vai levar tempo. Se o que haviam acabado de testemunhar fosse de fato o que parecia ser —
ou seja, a prova de que uma alma, consciência, ou força vital podia se movimentar fora dos limites do