Page 205 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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corpo  —,  então  uma  nova  e  surpreendente  luz  acabara  de  ser  lançada  sobre  incontáveis  questões
          místicas:  transmigração,  consciência  cósmica,  experiências  de  quase  morte,  projeção  astral,
          visualização remota, sonhos lúcidos, e assim por diante. As revistas de medicina estavam repletas de
          histórias de pacientes que morreram na mesa de cirurgia e viram seus corpos de cima antes de serem
          trazidos de volta à vida.
                 Peter  estava  calado,  e  Katherine  viu  lágrimas  em  seus  olhos.  Ela  entendeu.  Também  havia
          chorado. Peter e Katherine tinham perdido pessoas que amavam e, para qualquer um naquela posição,
          o mais ligeiro indício de que o espírito humano perdurava após a morte trazia um raio de esperança.
                 Ele  está  se  lembrando  de  Zachary,  pensou  Katherine,  reconhecendo  a  tristeza  profunda  nos
          olhos do irmão. Durante anos, Peter havia carregado o fardo da responsabilidade pela morte do filho.
          Ele dissera muitas vezes a Katherine que deixar Zachary na prisão fora o pior erro de sua vida e que
          jamais conseguiria perdoar a si mesmo.
                 Uma porta batendo chamou a atenção de Katherine e, de repente, ela se viu de volta ao subsolo,
          deitada sobre uma fria mesa de pedra. A porta de metal no alto da rampa havia se fechado com um
          estrondo, e o homem tatuado estava descendo. Ela pôde ouvi-lo entrar em um dos cômodos ao longo
          do  corredor,  fazer  alguma  coisa  lá  dentro  e  então  prosseguir  em  direção  ao  lugar  onde  ela  estava.
          Quando o homem entrou, Katherine viu que ele empurrava alguma coisa. Algo pesado... sobre rodas.
          Quando o vulto ficou debaixo da luz, ela o encarou, incrédula. O homem tatuado estava empurrando
          uma pessoa sobre uma cadeira de rodas.
                 Katherine reconheceu o homem na cadeira, mas sua mente mal conseguia aceitar o que via.
                 Peter?
                 Ela  não  sabia  se  deveria  ficar  eufórica  por  seu  irmão  ainda  estar  vivo...  ou  totalmente
          horrorizada.  O  corpo  de  Peter  havia  sido  raspado.  Seus  grossos  cabelos  prateados  tinham
          desaparecido, assim como as sobrancelhas, e sua pele lisa reluzia como se tivesse sido untada com
          óleo. Ele vestia um roupão de seda preto. Onde deveria estar sua mão direita via-se apenas um coto
          enrolado  em  uma  atadura  limpa  e  nova.  Os  olhos  carregados  de  dor  do  irmão  procuraram  os seus,
          cheios de arrependimento e tristeza.
                 — Peter! — A voz dela rateou.
                 Seu  irmão  tentou  falar,  mas  só  conseguiu  emitir  sons  abafados  e  guturais.  Katherine  então
          percebeu que ele estava preso à cadeira de rodas e que tinha sido amordaçado.
                 O homem tatuado estendeu a mão e afagou delicadamente o couro cabeludo raspado de Peter.
                 — Eu preparei seu irmão para uma grande honra. Ele tem um papel a desempenhar hoje à noite.
                 Todo o corpo de Katherine se retesou. Não...
                 — Peter e eu vamos embora daqui a pouco, mas achei que você fosse querer se despedir.
                 — Para onde você vai levar meu irmão? — indagou ela com a voz fraca.
                 Ele sorriu.
                 — Peter e eu precisamos viajar até a montanha sagrada. É lá que está o tesouro. A Pirâmide
          Maçônica revelou o local. Seu amigo Robert Langdon foi muito prestativo.
                 Katherine encarou o irmão nos olhos.
                 — Ele... matou Robert.
                 A expressão de Peter se contorceu de agonia, e ele sacudiu a cabeça com violência, como se
          não conseguisse mais suportar nenhuma dor.
                 — Ora, ora, Peter — disse o homem, tornando a lhe afagar o couro cabeludo. — Não deixe isso
          estragar o momento. Diga adeus à sua irmãzinha. Esta é sua última reunião de família.
                 Katherine sentiu sua mente se encher de desespero.
                 — Por que você está fazendo isso? — gritou para o homem. — O que foi que nós lhe fizemos?
          Por que odeia tanto a minha família?!
                 O homem tatuado se aproximou, colando a boca ao seu ouvido.
                 — Eu tenho meus motivos, Katherine. — Ele então caminhou até a bancada lateral e pegou a
          estranha  faca.  Levando-a  até  onde  ela  estava,  correu  a  lâmina  polida  por  sua  bochecha.  —  Esta  é
          provavelmente a faca mais famosa da história.
                 Katherine não sabia nada sobre facas famosas, mas aquela parecia sinistra e muito antiga. A
          lâmina estava afiadíssima.
                 — Não se preocupe — disse ele. — Não tenho a menor intenção de desperdiçar o poder disto
          aqui com você. Estou guardando a faca para um sacrifício mais digno... em um lugar mais sagrado. —
          Ele se virou para Peter. — Está reconhecendo esta faca, não está?
                 Os olhos de seu irmão estavam arregalados, com uma mistura de medo e descrença.
                 —  Sim,  Peter,  este  antigo  artefato  ainda  existe.  Paguei  caro  para  consegui-lo...  e  o  venho
          guardando para você. Finalmente, vamos poder terminar juntos nossa dolorosa jornada.
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