Page 39 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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concordado que a confidencialidade era de suma importância; se aqueles dados saíssem dali para um
servidor externo, eles não poderiam mais ter certeza de que continuariam secretos.
Convencida de que tudo estava correndo bem ali, ela voltou pelo corredor. Ao fazer a curva,
porém, viu algo inesperado do outro lado do laboratório. Mas o que é isso? Um brilho difuso emanava
de todo o equipamento. Ela se apressou para examiná-lo, surpresa ao ver luz saindo de trás da divisória
de plexiglas da sala de controle.
Ele está aqui. Katherine atravessou voando o laboratório, chegou à porta da sala de controle e a
abriu.
— Peter! — disse, entrando às pressas.
A moça gorducha diante do terminal da sala de controle se sobressaltou.
— Ai, meu Deus! Katherine! Que susto você me deu!
Trish Dunne — a única outra pessoa na face da Terra com permissão para entrar ali — era a
analista de metassistemas de Katherine e raramente trabalhava nos fins de semana. A ruiva de 26 anos
era um gênio em elaboração de modelos de dados e havia assinado um contrato de confidencialidade
digno da KGB. Naquela noite, estava aparentemente analisando dados no telão de plasma que cobria a
parede da sala de controle — um imenso monitor que parecia ter saído do centro de controle de
missões da NASA.
— Desculpe — disse Trish. — Eu não sabia que você já tinha chegado. Estava tentando
terminar antes de você e seu irmão se reunirem.
— Você falou com ele? Ele está atrasado e não atende o celular.
Trish fez que não com a cabeça.
— Aposto que ele ainda está tentando descobrir como usar o iPhone novo que você deu para
ele.
Katherine gostava do bom humor de Trish e a presença da ruiva ali acabara de lhe dar uma
ideia.
— Na verdade, que bom que você está aqui hoje. Talvez possa me ajudar com uma coisinha, se
não se importar.
— Seja o que for, tenho certeza de que é melhor do que futebol.
Katherine respirou fundo, acalmando a própria mente.
— Não sei muito bem como explicar isso, mas hoje mais cedo ouvi uma história estranha...
Trish Dunne não sabia que história Katherine Solomon tinha escutado, mas algo a deixara
claramente nervosa. Os olhos cinzentos geralmente calmos de sua chefe pareciam ansiosos, e ela já
havia ajeitado os cabelos atrás das orelhas três vezes desde que entrara na sala — um sinal de
nervosismo, como Trish costumava dizer. Cientista brilhante. Péssima jogadora de pôquer.
— Para mim — disse Katherine —, essa história parece inventada.., tipo uma lenda antiga.
Mas... — Ela fez uma pausa, arrumando outra vez uma mecha atrás da orelha.
— Mas...?
Katherine deu um suspiro.
— Mas hoje uma fonte segura me disse que a lenda é verdadeira.
— Certo... — Aonde ela quer chegar com isso?
— Vou conversar com meu irmão a respeito, mas antes disso talvez você possa me ajudar a
lançar alguma luz sobre a questão. Adoraria saber se essa lenda já foi corroborada em algum momento
da história.
— De toda a história?
Katherine assentiu.
— Em qualquer lugar do mundo, em qualquer idioma, em qualquer momento da história.
Um pedido estranho, pensou Trish, mas com certeza factível. Dez anos antes, a tarefa teria sido
impossível. Atualmente, porém, com a internet, a rede mundial de computadores e a crescente
digitalização de grandes bibliotecas e museus do mundo, o objetivo de Katherine podia ser alcançado
usando uma ferramenta de busca relativamente simples equipada com um exército de módulos de
tradução e algumas palavras-chave bem escolhidas.
— Sem problemas — disse Trish. Muitos dos livros de referência da biblioteca do laboratório
continham trechos em línguas antigas, de modo que ela várias vezes precisava elaborar módulos de
tradução específicos com base em Reconhecimento Ótico de Caracteres, ou OCR, para gerar textos em
inglês a partir de línguas obscuras. Ela devia ser a única especialista em metassistemas do mundo a ter
elaborado módulos desse tipo em frísio antigo, maek e acádio.
Os módulos iriam ajudar, mas o segredo para construir um agente de busca — ou web spider —
eficaz era escolher as palavras-chave certas. Específicas, mas não excessivamente restritivas.