Page 41 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 41
— É claro que o seu livro é avançado demais para mim — disse Trish —, mas eu entendi o
suficiente para ver uma interseção com meu trabalho sobre metassistemas.
— Você diz no seu blog que os modelos de metassistemas podem transformar o estudo da
noética?
— Com certeza. Eu acredito que os metassistemas poderiam transformar a noética em uma
ciência de verdade.
— Ciência de verdade? — O tom de Katherine ficou um pouco mais duro. — Ao contrário de...?
Ai, merda, que fora!
— Hã... o que eu quis dizer foi que a noética é mais... esotérica.
Katherine deu uma risada.
— Relaxe, estou brincando. Ouço isso o tempo todo.
Não é de espantar, pensou Trish. Até mesmo o Instituto de Ciências Noéticas da Califórnia
descrevia a disciplina em uma linguagem misteriosa e difícil de entender, definindo-a como o estudo do
“acesso direto e imediato por parte da humanidade ao conhecimento além daquele disponível aos
nossos sentidos normais e ao poder da razão’
A palavra noético, como Trish havia descoberto, vinha do grego antigo nous — que podia ser
traduzido aproximadamente como “conhecimento interno” ou “consciência intuitiva”.
— Tenho interesse no seu trabalho com metassistemas — disse Katherine — e em como ele
pode se relacionar com um projeto no qual estou trabalhando. Você por acaso estaria disposta a me
encontrar? Eu adoraria lhe fazer algumas perguntas.
Katherine Solomon quer me fazer umas perguntas? Era como se Maria Sharapova tivesse lhe
telefonado pedindo dicas sobre tênis.
No dia seguinte, um Volvo branco parou em frente à sua casa e uma mulher atraente e esguia
usando uma calça jeans saltou do carro. Trish na mesma hora se sentiu com meio metro de altura. Que
maravilha, resmungou consigo mesma. Inteligente, rica e magra — e eu ainda devo acreditar que Deus
é bom? Mas o jeito despretensioso de Katherine logo a deixou à vontade.
As duas se acomodaram na imensa varanda dos fundos de Trish com vista para a propriedade
de tamanho impressionante.
— Sua casa é incrível — comentou Katherine.
— Obrigada. Tive sorte na faculdade e vendi a licença de um software que tinha desenvolvido.
— Relacionado com metassistemas?
— Um precursor dos metassistemas. Depois do 11 de Setembro, o governo começou a
interceptar e analisar imensos campos de dados: e-mails de civis, ligações de celular, faxes,
mensagens de texto, sites na internet, tudo em busca de palavras-chave ligadas a comunicações entre
terroristas. Então eu desenvolvi um software que lhes permitia processar seu campo de dados de uma
segunda forma, extraindo dele um outro produto de inteligência. — Ela sorriu. — Basicamente, o meu
software lhes permite medir a temperatura dos Estados Unidos.
— Como assim?
Trish riu.
— É, eu sei que parece loucura. O que estou querendo dizer é que ele quantifica o estado
emocional do país. Proporciona uma espécie de barômetro da consciência cósmica, se preferir. — Trish
explicou como, usando um campo de dados constituído pelas comunicações do país, era possível
avaliar o humor da nação com base na “densidade de ocorrência” de determinadas palavras-chave e
indicadores emocionais no campo de dados. Épocas mais felizes tinham uma linguagem mais feliz, e
épocas de estresse tinham uma linguagem mais estressada. Em caso de atentado terrorista, por
exemplo, o governo poderia usar os campos de dados para estimar a mudança na psique dos Estados
Unidos e informar melhor o presidente sobre o impacto emocional do acontecimento.
— Fascinante — comentou Katherine acariciando o queixo. — Então você está basicamente
examinando uma população de indivíduos.., como se eles fossem um organismo único.
— Exato. Um metassistema. Uma entidade única definida pela soma de suas partes. O corpo
humano, por exemplo, é constituído por milhões de células individuais, cada qual com atribuições e
finalidades diferentes, mas funciona como uma entidade única.
Katherine aquiesceu, animada.
— Como um bando de pássaros ou um cardume que se move como se fosse uma coisa só. Nós
chamamos isso de convergência ou de entrelaçamento.
Trish sentiu que sua convidada famosa estava começando a perceber o potencial da
programação de metassistemas e sua aplicabilidade no campo da ciência noética.
— O meu software — explicou Trish — foi criado para ajudar as agências governamentais a
avaliar melhor e reagir de maneira apropriada a crises em grande escala: pandemias, tragédias