Page 42 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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nacionais, terrorismo, esse tipo de coisa. — Ela fez uma pausa. — É claro que nada impede que ele
possa ser usado para outras coisas... talvez para capturar o estado de espírito do país em um dado
momento e prever o desfecho de uma eleição presidencial ou a direção em que o mercado de ações vai
oscilar quando o pregão abrir.
— Parece uma ferramenta poderosa.
Trish fez um gesto indicando sua casa.
— O governo, pelo menos, achou.
Então, os olhos cinzentos de Katherine se fixaram em Trish.
— Você se importa que eu pergunte sobre o dilema ético gerado pelo seu trabalho?
— Como assim?
— Quer dizer, você criou um software que pode facilmente ser usado para fins escusos. Quem
quer que o detenha possui acesso a informações poderosas que não estão disponíveis para todo
mundo. Você não ficou preocupada ao criá-lo?
Trish sequer pestanejou.
— De jeito nenhum. O meu software não é diferente de, digamos, um simulador de voo. Alguns
vão usá-lo como treino para missões aéreas de primeiros socorros em países subdesenvolvidos. Outros
para aprender a jogar aviões de passageiros contra arranha-céus. O conhecimento é uma ferramenta e,
como todas as ferramentas, seu impacto está nas mãos do usuário.
Katherine se recostou na cadeira, parecendo impressionada.
— Então deixe-me lhe fazer uma pergunta hipotética.
De repente, Trish percebeu que a conversa havia se transformado em uma entrevista de
emprego.
Katherine estendeu o braço e recolheu um minúsculo grão de areia do piso da varanda,
erguendo-o para Trish ver.
— O que me parece — disse ela — é que, basicamente, seu trabalho sobre metassistemas
permite calcular o peso de toda a areia de uma praia, pesando um grão de cada vez.
— Basicamente, é isso mesmo.
— Como você sabe, este grãozinho de areia tem uma massa. Muito pequena, mas mesmo
assim uma massa.
Trish aquiesceu.
— E justamente pelo fato de este grão de areia ter uma massa, ele exerce uma força de
gravidade. Ela também é pequena demais para ser sentida, mas existe.
— Certo.
— Então — disse Katherine —, se nós pegarmos trilhões de grãos de areia como este e
deixarmos que atraiam uns aos outros para formar, digamos, a lua, a força de gravidade combinada
deles será suficiente para mover oceanos inteiros e fazer subir e descer as marés por todo o nosso
planeta.
Trish não sabia aonde Katherine pretendia chegar, mas estava gostando do que ouvia.
— Então vamos elaborar uma hipótese — falou Katherine, descartando o grão de areia. — E se
eu dissesse a você que um pensamento, qualquer ideia minúscula que se forme na sua mente, possui
uma massa? E se eu lhe dissesse que um pensamento é uma coisa de verdade, uma entidade
mensurável, com uma massa mensurável? Minúscula, é claro, mas ainda assim uma massa. Quais
seriam as implicações disso?
— Hipoteticamente falando? Bem, as implicações óbvias seriam: se um pensamento tem massa,
então ele exerce uma força de gravidade e pode atrair coisas para si.
Katherine sorriu.
— Você é boa. Agora avance mais um passo. O que acontece se muitas pessoas começam a se
concentrar no mesmo pensamento? Todas as ocorrências desse mesmo pensamento passam a se
consolidar em uma só, e a massa acumulada dele começa a aumentar. Portanto, sua gravidade
aumenta.
— Certo.
— O que significa que... se um número suficiente de pessoas começar a pensar a mesma coisa,
então a força gravitacional dessa ideia se torna tangível e exerce uma força de verdade. — Katherine
deu uma piscadela. — E ela pode ter um efeito mensurável no nosso mundo físico.