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Você não é o único, pensou Langdon, imaginando os milhares de pessoas, incluindo famosos
legisladores, que passavam pelo centro da Rotunda todos os dias sem saber que antigamente teriam
caído dentro da Cripta do Capitólio — o nível logo abaixo da Rotunda.
— O buraco no chão — disse-lhes Langdon — acabou sendo coberto, mas, durante um bom
tempo, os visitantes da Rotunda puderam ver através dele o fogo que ardia lá embaixo.
Sato se virou.
— Fogo? No Capitólio?
— Na verdade, era mais uma tocha grande, uma chama eterna que ardia na cripta logo abaixo
de onde estamos. A ideia era que o fogo fosse visível pelo buraco, transformando esta sala em um
moderno Templo de Vesta. O prédio tinha até a sua própria virgem vestal: um funcionário público
federal chamado guardião da cripta, que conseguiu manter a chama acesa por 50 anos, até a política, a
religião e os danos causados pela fumaça apagarem a ideia.
Tanto Anderson quanto Sato pareciam surpresos.
Atualmente, o único indício de que ali já houvera uma chama acesa era a estrela de quatro
pontas que representa a rosa dos ventos gravada no piso da cripta um andar abaixo de onde eles
estavam — símbolo da chama eterna dos Estados Unidos que um dia havia irradiado sua luz para os
quatro cantos do Novo Mundo.
— Então, professor — disse Sato —, sua tese é a de que o homem que deixou a mão de Peter
aqui sabia de tudo isso?
— Está claro que sim. E sabia muito, muito mais. Esta sala está cheia de símbolos que refletem
a crença nos Antigos Mistérios.
— Um saber secreto — disse Sato, com um tom de voz que fazia mais do que sugerir sarcasmo.
— Um conhecimento que permite aos homens adquirir poderes comparáveis aos de um deus?
— Sim, senhora.
— Isso não se encaixa muito bem nos fundamentos cristãos deste país.
— Aparentemente não, mas é verdade. Essa transformação do homem em deus se chama
apoteose. Quer a senhora saiba disso ou não, esse tema é o elemento central do simbolismo desta
Rotunda.
— Apoteose? — Anderson se virou para ele com uma expressão espantada de reconhecimento.
— Sim. — Anderson trabalha aqui. Ele sabe. — A palavra apoteose significa literalmente
“transformação divina”: o homem que se torna deus. Vem do grego antigo: apo, que aqui significa
“tornar-se”, e theos, “deus”.
Anderson parecia pasmo.
— Apoteose quer dizer “virar deus”? Eu não fazia a menor ideia.
— Do que vocês estão falando? — indagou Sato.
— Minha senhora — disse Langdon —, o maior quadro deste prédio se chama A Apoteose de
Washington. E ele mostra claramente George Washington sendo transformado em deus.
Sato fez cara de cética.
— Eu nunca vi nada desse tipo.
— Na verdade, tenho certeza de que viu, sim. — Langdon ergueu o indicador e apontou para
cima. — Está bem acima da sua cabeça.
CAPÍTULO 21
A Apoteose de Washington — um afresco de 433 metros quadrados que adorna a cúpula da
Rotunda do Capitólio — foi concluída em 1865 por Constantino Brumidi.
Conhecido como “Michelangelo do Capitólio”, Brumidi deixou sua marca na Rotunda do mesmo
modo que Michelangelo deixou a sua na Capela Sistina: pintando um afresco na tela mais sublime do
recinto — o teto. Assim como Michelangelo, Brumidi fizera alguns de seus melhores trabalhos dentro do
Vaticano. No entanto, ao emigrar para os Estados Unidos em 1852, ele havia trocado o maior altar de
Deus por um novo altar, o Capitólio dos Estados Unidos, que agora reluzia com exemplos de sua arte
— do trompe l’ceil dos Corredores de Brumidi aos frisos do teto da Sala do Vice-presidente. Mas era a
gigantesca imagem que pairava sobre a Rotunda do Capitólio que a maioria dos historiadores
considerava sua obra-prima.
Robert Langdon ergueu os olhos para o enorme afresco que cobria o teto. Em geral ele
apreciava as reações espantadas de seus alunos às bizarras imagens da pintura, mas, naquele
momento, sentia-se apenas preso em um pesadelo que ainda precisava entender.