Page 48 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 48

A diretora Sato estava parada ao seu lado com as mãos nos quadris, as sobrancelhas franzidas
          para  o  teto  distante.  Langdon  sentiu  que  ela  estava  tendo  a  mesma  reação  que  muitos  tinham  na
          primeira vez em que paravam para observar a pintura no coração de seu país.
                 Perplexidade total.
                 A senhora não é a única, pensou Langdon. Para a maioria das pessoas, quanto mais se olhava
          para A Apoteose de Washington, mais estranha a pintura ficava.
                 — Aquele ali no painel central é George Washington — disse Langdon, apontando para o meio
          da cúpula quase 60 metros acima. — Como a senhora pode ver, ele está usando vestes brancas e, com
          o  auxílio  de  13  donzelas,  ergue-se  acima  dos  mortais  sobre  uma  nuvem.  Esse  é  o  instante  da  sua
          apoteose... da sua transformação em deus.
                 Sato e Anderson não disseram nada.
                 — Ao redor dele — prosseguiu Langdon —, vocês podem ver uma estranha e anacrônica série
          de personagens: deuses antigos oferecendo aos nossos pais fundadores um conhecimento avançado.
          Podemos ver Minerva concedendo inspiração tecnológica aos grandes inventores de nosso país: Ben
          Franklin, Robert Fulton, Samuel Morse. — Langdon os apontou um a um. — E ali temos Vulcano nos
          ajudando a construir um motor a vapor. Ao seu lado temos Ceres, deusa dos grãos e raiz etimológica de
          nossa  palavra  cereal;  ela  está  sentada  sobre  a  colheitadeira  McCormick,  a  inovação  agrícola  que
          permitiu a este país se tornar líder mundial em produção de alimentos. Do lado oposto está Netuno,
          demonstrando como instalar o cabo transatlântico. O afresco retrata de forma bastante clara os nossos
          pais fundadores recebendo um grande saber dos deuses. — Ele abaixou a cabeça e olhou para Sato.
          — Conhecimento é poder, e o conhecimento certo permite ao homem realizar tarefas milagrosas, quase
          divinas.
                 Sato tornou a baixar os olhos para Langdon e esfregou o pescoço.
                 — Instalar um cabo telefônico é algo muito diferente de ser um deus.
                 —  Para  os  homens  modernos,  pode  até  ser  —  retrucou  Langdon.  —  Mas,  se  George
          Washington soubesse que nós viramos uma raça com o poder de nos comunicar através dos oceanos,
          voar à velocidade da luz e pisar na Lua, ele iria supor que nós nos transformamos em deuses, capazes
          de tarefas milagrosas. — Ele fez uma pausa. — Nas palavras do futurista Arthur C. Clarke: “Qualquer
          tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia.”
                 Sato franziu os lábios, aparentemente entretida com os próprios pensamentos. Baixou os olhos
          para  a  mão  e,  em  seguida,  os  ergueu  de  volta  para  a  cúpula,  na  direção  apontada  pelo  indicador
          esticado.
                 — Professor, o senhor foi informado de que Peter iria apontar o caminho, correto?
                 — Sim, senhora, mas...
                 — Chefe — disse Sato, virando as costas para Langdon —, pode nos fazer ver a pintura mais de
          perto?
                 Anderson aquiesceu.
                 — Sim, há uma passarela que contorna a parte interna da cúpula.
                 Langdon olhou bem lá para cima, para a minúscula grade logo abaixo do afresco, e sentiu o
          corpo se retesar.
                 —  Não  há  necessidade  de  ir  até  lá  em  cima.  —  Ele  já  subira  uma  vez  naquela  passarela
          raramente  visitada,  a  convite  de  um  senador  e sua  esposa,  e quase  desmaiara  por  causa  da altura
          estonteante e da precariedade da estrutura.
                 — Não há necessidade? — repetiu Sato. — Professor, nós temos um homem que acredita que
          esta  sala  contém  um  portal  capaz  de  transformá-lo  em  um  deus;  temos  um  afresco  no  teto  que
          simboliza  exatamente  essa  transformação;  e  temos  a  mão  de  alguém  apontando  direto  para  essa
          pintura. Parece que tudo está nos incentivando a subir.
                 — Na verdade — interveio Anderson, olhando para cima —, poucas pessoas sabem disso, mas
          existe um painel hexagonal na cúpula que se abre como um portal e pelo qual é possível olhar e...
                 — Esperem um instante — disse Langdon —, vocês estão entendendo mal. O portal que esse
          homem  está  procurando  é  um  portal figurado... que  não  existe.  Quando  ele  disse  “Peter  apontará  o
          caminho”,  estava falando  em  termos  metafóricos.  O gesto  da mão que  aponta,  com  o  indicador  e  o
          polegar esticados para cima, é um símbolo conhecido dos Antigos Mistérios, e aparece na arte antiga
          do mundo todo. Esse mesmo gesto aparece em três das obras-primas codificadas mais famosas de
          Leonardo  da  Vinci:  A  Última  Ceia,  A  Adoração  dos  Magos  e  São  João  Batista.  É  um  símbolo  da
          conexão mística do homem com Deus. — Assim em cima como embaixo. A bizarra escolha de palavras
          do louco começava a parecer mais relevante.
                 — Nunca vi esse gesto antes — disse Sato.
   43   44   45   46   47   48   49   50   51   52   53