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Sato arqueou as sobrancelhas.
— Isso não é totalmente verdade.
Langdon hesitou ao perceber que, para muitas pessoas religiosas, havia de fato um precedente
para deuses humanos, dos quais Jesus era o mais evidente.
— É verdade — disse ele — que muitas pessoas instruídas acreditam nesse conhecimento
capaz de conferir poder, mas ainda não estou convencido.
— Peter Solomon é uma dessas pessoas? — perguntou a diretora, olhando de relance para a
mão no piso da Rotunda.
Langdon não conseguiu se forçar a olhar novamente para a mão.
— Peter vem de uma família que sempre teve paixão por todo tipo de coisa antiga e mística.
— Então a resposta é sim? — indagou Sato.
— Posso garantir à senhora que, ainda que Peter acredite que os Antigos Mistérios sejam
verdadeiros, ele não crê que seja possível acessá-los atravessando algum tipo de portal escondido em
Washington. Ele entende o conceito de simbolismo metafórico, algo que evidentemente não se pode
dizer de seu sequestrador.
Sato aquiesceu.
— Então o senhor acredita que esse portal é uma metáfora?
— É claro — disse Langdon. — Pelo menos em teoria. É uma metáfora bem comum: um portal
místico que se deve atravessar de modo a alcançar a iluminação. Portais e portas são construtos
simbólicos recorrentes, que representam ritos de passagem transformadores. Procurar um portal literal
seria como tentar localizar os verdadeiros Portões do Paraíso.
Sato pareceu refletir sobre a questão por alguns instantes.
— Mas me parece que o homem que sequestrou o Sr. Solomon acredita que o senhor é capaz
de destrancar um portal de verdade.
Langdon soltou o ar com força.
— Ele cometeu o mesmo erro de muito zelotes: confundir metáforas com realidade. — De modo
semelhante, os alquimistas primitivos se esforçaram em vão para converter chumbo em ouro sem
nunca perceber que essa transformação nada mais era do que uma metáfora para a exploração do
verdadeiro potencial humano: pegar uma mente obtusa, ignorante, e transmudá-la em uma mente
brilhante e iluminada.
Sato gesticulou em direção à mão.
— Se esse homem quer que o senhor localize algum tipo de portal para ele, por que
simplesmente não lhe diz como encontrá-lo? Por que toda essa encenação? Por que lhe dar a mão
tatuada de alguém?
Langdon havia feito a mesma pergunta a si mesmo, e a resposta era perturbadora.
— Bem, parece que o homem com quem estamos lidando, além de mentalmente instável, é
muito instruído. A mão é uma prova de que ele é versado nos Mistérios, assim como em seus códigos
de confidencialidade. Sem mencionar seus conhecimentos relativos à história desta sala.
— Não estou entendendo.
— Tudo o que ele fez hoje à noite se encaixa perfeitamente nos protocolos antigos.
Tradicionalmente, a Mão dos Mistérios é um convite sagrado, devendo, portanto, ser feito em um local
igualmente sagrado.
Os olhos de Sato se estreitaram.
— Estamos na Rotunda do Capitólio dos Estados Unidos, professor, não em um altar sagrado
dedicado a antigos segredos místicos.
— Na verdade, minha senhora — disse Langdon —, conheço um grande número de
historiadores que iriam discordar.
Nesse mesmo instante, do outro lado da cidade, Trish Dunne estava sentada dentro do Cubo
diante do brilho do telão de plasma. Terminou de preparar seu spider de busca e digitou as cinco
expressões-chave que Katherine havia lhe passado.
Isso não vai dar em nada.
Sentindo-se pouco otimista, ela acionou o spider, dando início a uma pescaria por toda a rede. A
uma velocidade estonteante, as expressões passaram a ser comparadas a textos espalhados pelo
mundo todo... em busca de uma correspondência perfeita.
Era inevitável que Trish se perguntasse qual era o sentido daquilo, mas ela já havia aprendido a
aceitar que trabalhar para os Solomon significava nunca conhecer todos os fatos.