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daquela sala de estar de estilo antiquado estavam cobertas de obras de arte antigas, sobretudo quadros
          com estranhos temas místicos. Ela parou diante de uma grande tela representando as Três Graças,
          cujos corpos nus estavam retratados de forma espetacular, em cores vívidas.
                 — É o óleo original de Michael Parkes. — O Dr. Abaddon apareceu de repente ao seu lado,
          segurando uma bandeja de chá fumegante. Pensei que talvez pudéssemos nos sentar junto à lareira. —
          Ele a conduziu até lá e lhe ofereceu uma cadeira. — Não há motivo para a senhora ficar nervosa.
                 — Não estou nervosa — respondeu Katherine depressa demais.
                 Ele lhe deu um sorriso reconfortante.
                 — Na verdade, saber quando as pessoas estão nervosas é o meu trabalho.
                 — Como disse?
                 — Eu sou psiquiatra, Sra. Solomon. Essa é a minha profissão. Já faz quase um ano que estou
          cuidando do seu irmão. Sou o terapeuta dele.
                 Tudo o que Katherine conseguiu fazer foi encará-lo. Meu irmão está fazendo terapia?
                 — Os pacientes muitas vezes preferem guardar segredo sobre o tratamento — disse o homem.
          — Foi um equívoco de minha parte ligar para a senhora, embora possa dizer, em minha defesa, que
          seu irmão me induziu ao erro.
                 — Eu... eu não fazia ideia.
                 — Sinto muito se a deixei nervosa — disse ele, parecendo constrangido.
                 — Reparei que a senhora ficou analisando meu rosto quando nos apresentamos, e sim, eu uso
          maquiagem. — Ele tocou a própria bochecha com um ar acanhado. — Tenho uma doença de pele que
          prefiro esconder. Em geral quem me maquia é minha mulher, mas quando ela não está tenho que me
          contentar com minha própria mão pesada.
                 Katherine assentiu com a cabeça, constrangida demais para falar.
                 — E estes lindos cabelos... — Ele tocou sua juba loura. — Isto é uma peruca. Minha doença de
          pele também afetou os folículos do couro cabeludo e todos os meus cabelos caíram. — Ele deu de
          ombros. — Temo que meu único pecado seja a vaidade.
                 — E aparentemente o meu é a grosseria — disse Katherine.
                 — De forma alguma. — O sorriso do Dr. Abaddon desarmaria qualquer um.
                 — Vamos começar de novo? Que tal com um pouco de chá?
                 Eles se sentaram em frente à lareira e Abaddon serviu.
                 — O seu irmão me fez adquirir o hábito de servir chá durante nossas sessões. Ele disse que os
          Solomon gostam da bebida.
                 — Tradição de família — disse Katherine. — Puro, por favor.
                 Os  dois  passaram  alguns  minutos  tomando  o  chá  e  jogando  conversa  fora,  mas  Katherine
          estava ansiosa para obter informações sobre o irmão.
                 — Por que meu irmão veio procurar o senhor? — perguntou ela. E por que ele não me disse
          nada? Era bem verdade que Peter havia sofrido mais tragédias na vida do que merecia: perder o pai
          ainda jovem e, depois, em um intervalo de cinco anos, enterrar seu único filho e em seguida a mãe.
          Mesmo assim, ele sempre havia encontrado uma forma de seguir em frente.
                 O Dr. Abaddon tomou um gole do chá.
                 — Seu irmão me procurou porque confia em mim. Temos uma ligação que vai além daquela que
          existe  normalmente  entre  paciente  e  médico.  —  Ele  gesticulou  na  direção  de  um  documento
          emoldurado perto da lareira. Parecia um diploma, até Katherine distinguir a fênix de duas cabeças.
                 — O senhor é maçom? — E do grau mais elevado, ainda por cima.
                 — Peter e eu somos de certa forma irmãos.
                 — O senhor deve ter feito alguma coisa importante para ser convidado ao grau 33.
                 —  Na  verdade,  não  —  respondeu  ele.  —  Venho  de  uma  família  tradicional  e  faço  muitas
          doações a instituições de caridade maçônicas.
                 Katherine  então  percebeu  por  que  o  irmão  confiava  naquele  jovem  médico.  Um  maçom  de
          família rica interessado em filantropia e mitologia antiga?
                     O  Dr.  Abaddon  tinha  mais  coisas  em  comum  com  seu  irmão  do  que  ela  havia  imaginado
          inicialmente.
                 —  Quando  perguntei  por  que  meu  irmão  veio  procurar  o  senhor  —  disse  ela  —,  não  estava
          querendo saber por que ele o escolheu. O que eu quis dizer foi: por que ele está buscando os serviços
          de um psiquiatra?
                 O Dr. Abaddon sorriu.
                 — Sim, eu sei. Eu estava tentando me esquivar educadamente da pergunta. Na verdade, nem
          deveríamos estar conversando sobre isso. — Ele fez uma
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