Page 58 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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— Isso mesmo.
— Mas... por que não?
Solomon sorriu.
— Porque não chegou a hora.
Langdon o encarou sem entender.
— Hora de quê?
— Robert, eu sei que isso vai parecer estranho, mas quanto menos você souber, melhor.
Apenas guarde esse embrulho em algum lugar seguro e, por favor, não conte a ninguém que eu o
entreguei a você.
Langdon vasculhou os olhos de seu mentor em busca de uma centelha de humor. Solomon tinha
uma tendência a dramatizar as coisas, e Langdon ficou imaginando se o amigo não o estava
manipulando um pouco.
— Peter, tem certeza de que isso não é apenas um plano engenhoso para eu achar que algum
antigo segredo maçônico me foi confiado, ficar curioso e decidir entrar para a irmandade?
— Os maçons não recrutam ninguém, Robert, você sabe disso. Além do mais, você já me disse
que prefere continuar de fora.
Era verdade. Langdon tinha muito respeito pela filosofia e pelo simbolismo maçônicos, mas,
mesmo assim, decidira nunca se iniciar. Os votos de confidencialidade da ordem o impediriam de falar
sobre a Francomaçonaria com seus alunos. O mesmo motivo pelo qual Sócrates havia se recusado a
participar formalmente dos Mistérios de Elêusis.
Contudo, enquanto olhava para a misteriosa caixinha com seu lacre maçônico, não pôde deixar
de fazer a pergunta óbvia:
— Por que não deixar isto aqui aos cuidados de um dos seus irmãos maçônicos?
— Digamos apenas que meu instinto me diz que ele estará mais seguro fora
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da irmandade. E, por favor, não se deixe enganar pelo tamanho desse embrulho. Se o que meu pai me
contou for verdade, ele contém algo de considerável poder. — Ele fez uma pausa. — Uma espécie de
talismã.
Ele disse talismã? Por definição, um talismã era um objeto com poderes mágicos.
Tradicionalmente, eram usados para dar sorte, afastar os maus espíritos ou auxiliar em antigos rituais.
— Peter, você sabe que os talismãs saíram de moda na Idade Média, não sabe?
Peter pousou a mão no ombro de Langdon com toda a paciência.
— Sei que parece estranho, Robert. Eu o conheço há muito tempo, e o seu ceticismo é uma das
suas grandes forças como acadêmico. Mas também é sua maior fraqueza. Eu o conheço o suficiente
para saber que você não é um homem a quem posso pedir para acreditar... apenas para confiar. Então
agora estou pedindo que confie em mim quando digo que esse talismã é poderoso. Tenho informações
de que ele pode dar ao seu dono a capacidade de criar ordem a partir do caos.
Langdon só conseguiu encará-lo fixamente. A ideia de “criar ordem a partir do caos” era um dos
grandes axiomas maçônicos. Ordo ab chao. Ainda assim, era um absurdo afirmar que um talismã
pudesse atribuir qualquer tipo de poder, muito menos o de criar ordem a partir do caos.
— Esse talismã — continuou Solomon — seria um perigo nas mãos erradas, e infelizmente
tenho motivos para crer que pessoas poderosas querem roubá-lo de mim. — Até onde se lembrava,
Langdon jamais tinha visto tamanha seriedade nos olhos de Peter. — Gostaria que você o mantivesse
seguro para mim por algum tempo. Pode fazer isso?
À noite, já em casa, Langdon ficou sentado sozinho à mesa da cozinha diante do embrulho,
tentando imaginar o que poderia haver lá dentro. No final das contas, pôs tudo aquilo na conta da
excentricidade de Peter, trancou o pacote no cofre de sua biblioteca e acabou se esquecendo dele por
completo.
Quer dizer... até a manhã daquele dia.
O telefonema do homem com o sotaque sulista.
— Ah, professor, quase me esqueci! — dissera o assistente depois de lhe transmitir os detalhes
sobre sua viagem até Washington. — O Sr. Solomon pediu mais uma coisa.
— Sim? — retrucou Langdon, já pensando na palestra que acabara de concordar em fazer.
— Ele deixou um recado para o senhor. — O homem começou a ler com dificuldade, como se
estivesse tentando decifrar a caligrafia de Peter. — “Por favor, peça a Robert... que traga... o pequeno
embrulho lacrado que lhe entreguei muitos anos atrás.” — O homem fez uma pausa. — Isso faz algum
sentido para o senhor?