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— E avise a imprensa — disse Katherine enquanto Trish saía. — O grande Peter Solomon
acaba de mandar seu primeiro torpedo.
No estacionamento de um pequeno centro comercial em frente ao CAMS, Mal’akh estava em pé
ao lado de sua limusine, esticando as pernas e esperando o telefonema que, não tinha dúvidas,
receberia em breve. Havia parado de chover e uma lua de inverno começara a surgir entre as nuvens. A
mesma lua que o iluminara através da claraboia da Casa do Templo durante sua iniciação três meses
antes.
O mundo parece diferente hoje à noite.
Enquanto ele esperava, sua barriga tornou a roncar. O jejum de dois dias, embora
desconfortável, era essencial para sua preparação. Esse era o costume antigo. Logo todos os
desconfortos físicos já não teriam a menor importância.
No ar frio da noite, Mal’akh deu uma risadinha ao ver que o destino o fizera parar, de forma
bastante irônica, bem em frente a uma pequena igreja. Ali, entre uma clínica dentária e um mercadinho,
aninhava-se um minúsculo santuário.
CASA DA GLÓRIA DE DEUS.
Mal’akh olhou para o letreiro com a doutrina da Igreja: NÓS ACREDITAMOS QUE JESUS
CRISTO FOI CONCEBIDO PELO ESPÍRITO SANTO, QUE NASCEU DA VIRGEM MARIA E QUE É AO
MESMO TEMPO HOMEM E DEUS.
Mal’akh sorriu. Sim, Jesus é de fato as duas coisas — homem e Deus —, mas ter nascido de
uma virgem não é pré-requisito para a divindade. Não é assim que acontece.
O toque de um celular varou o silêncio da noite, fazendo sua pulsação se acelerar. Era o
telefone de Mal’akh — um aparelho barato e descartável que ele havia comprado na véspera. O
identificador de chamadas mostrava que era a ligação que ele estava esperando.
Uma chamada local, ponderou Mal’akh, olhando para o outro lado da Silver Hill Road, em
direção à silhueta indistinta, iluminada pelo luar, de um telhado em zigue-zague que se erguia acima
das copas das árvores. Mal’akh abriu o telefone.
— Dr. Abaddon falando — disse ele, forçando a voz a ficar mais grave.
— É Katherine — respondeu a voz de mulher. — Finalmente tive notícias do meu irmão.
— Ah, que alívio. Como ele está?
— Está a caminho do meu laboratório agora mesmo — disse Katherine. — Na verdade, ele
sugeriu que você se juntasse a nós.
— Como? — Mal’akh fingiu hesitar. — No seu laboratório?
— Ele deve confiar muito em você. Nunca convida ninguém a vir aqui.
— Talvez ele ache que uma visita possa facilitar as nossas conversas, mas fico me sentindo um
intruso.
— Se meu irmão está dizendo que você é bem-vindo, então você é bem-vindo. Além do mais,
ele falou que tem muitas coisas para nos contar, e eu adoraria entender direito o que está acontecendo.
— Então está bem. Onde exatamente fica o seu laboratório?
— No Centro de Apoio dos Museus Smithsonian. Você sabe onde é?
— Não — disse Mal’akh, olhando para o complexo do outro lado da rua. — Mas estou no carro
agora e tenho um GPS. Qual é o endereço?
— Silver Hill Road, 4.210.
— Certo, espere um instante. Vou digitá-lo aqui. — Mal’akh aguardou 10 segundos e então
tornou a falar. — Ah, que bom, parece que fica mais perto do que eu pensava. Segundo o GPS, estou a
uns 10 minutos daí.
— Ótimo. Vou ligar para a guarita e avisar que está chegando.
— Obrigado.
— Até daqui a pouco.
Mal’akh guardou o telefone descartável no bolso e olhou na direção do CAMS. Será que foi
grosseria eu me convidar? Sorrindo, sacou o iPhone de Peter Solomon e admirou a mensagem de texto
que tinha mandado para Katherine minutos antes.
Recebi suas mensagens. Está tudo bem. Dia cheio. Esqueci
consulta com Dr. Abaddon. Desculpe no ter falado nele antes.
Longa história. Estou indo para o laboratório. Peça ao Dr.
Abaddon que nos encontre lá, se puder. Confio totalmente
nele e tenho muito a dizer a vocês dois. — Peter
Conforme o esperado, o iPhone de Peter apitou em seguida com a resposta de Katherine.