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FRAGMENTA HISTORICA                     Cristóvão Mendes de Carvalho  ‐ História de um alto
                                                            magistrado quinhentista e de sua família

             Diz a carta de D. Afonso V que lhe doou o   Licenciado  Cristóvão  Mendes,  corregedor-
             senhorio  do  couto  de  Vimeiro:  “Dm      mor  da  Beira,  e  Fernão  da  Mesquita,
             affomsso etc. a qñtos esta carta uirem faço   cavaleiro da Casa d’el rei, filho e genro do
             sabr que acatamdo eu aos m  s(er)uiços      testador,  e  outros,  pelo  qual  manda
                                      tos
             que tenho rreçebido ally nas partes dafrica   sepultar-se na colegiada de Guimarães, ante
             como em estes meus rg  de castella de rruy   a  porta  que  vai  para  os  órgãos,  onde
                               os
             memdez meu comtador nos almoxarifados       também quer que venha a ser sepultada sua
             de guimaraaes e pomte de lima e             mulher a honrada Ana Rodrigues de
             querendolhos em parte agallardoar como a    Carvalho, porquanto “como ela sempre foi
             mim perteemçe fazer aaquelles que bem e     tão (...) comigo nos trabalhos que eu tiue no
             lealmemte me suem / E queremdo lhe fazer    mundo (...) se no outro mundo se deve saber
             graça e merçee / Teenho por bem e lhe faço   para contentamento deste ajuntamento
             merçee e doaçom em dias de sua uida da      assy ser”,  e  lega  200  reais  que  é  quanto
             juzdiçam çiuell e crime mero e mixto        agora  valem  dez  vinténs,  com  a  obrigação
             empereo do couto do uimieyro que estaa      de dez missas rezadas com responso e água
             açerqua da çidade de braga rresalluamdo a   benta sobre a sepultura.   É  possível  que
                                                                             210
             coreiçam  e  alçada/  ¶  E  porem  mamdo  ao   Rui  Mendes  tenha  tirado  ordens  menores
             meu corregedor na quella comarqua e         em Lisboa, cerca de 1453, juntamente com
             atodollos outros juyzes e justiças oficiaaes e   D.  Rodrigo  de  Noronha,  futuro  bispo  de
             pessoas  aque  o  conhecimento  desto       Lamego. Começa a documentar-se em 1472,
             perteemçer  e  esta  carta  for  mostrada  que   teria 28 anos, quando a 4 de Abril desse ano
             metam logo em posse da dita juzdiçam o      D.  Afonso  V  doou  vitaliciamente  a  Rui
             dito rruy memdez e lha leixem auer lograr e   Mendes,  vedor  do  bispo  de  Lamego,  seu
             pessuir  /  e  lha  nom  embarguem  e  lha   capelão-mor,  a  dízima  do  pescado  de  uns
             cumpram  e  guardem  e  façam  em  todo     canais no rio Douro, no termo da cidade de
             compryr e guardar esta minha carta assy e   Lamego.  A 8.4.1475 o mesmo rei nomeou
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             pella  guisa  que  em  ella  he  comteudo  por   Rui Mendes, escudeiro do bispo de Lamego
             qñto  assy  he  minha  merçee.  /  Dada  em   e  vedor  da  sua  Casa,  para  o  cargo  de
             minha cidade de Touro a seis dias de dabrill   contador da comarca de Entre-Douro-e-
             / affomsso garçees a fez, de mil e cccclxx e vj   Minho,  em  substituição  de  Gonçalo
             //”. Rui Mendes fez testamento em 1518, de   Afonso , que não o podia exercer, ficando
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             que existe traslado de cláusula passado pelo   no  entanto  com  mantimento  até  morrer,
             tabelião  Cristóvão  do  Vale  a  3.10.1521,   passando depois para Rui Mendes.  A
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             onde consta como Rui Mendes, cavaleiro da   6.5.1475  confirmou  a  doação  feita  a  Rui
             Ordem de Santiago, fidalgo da Casa d’el rei,   Mendes,  escudeiro,  vedor  do  bispo  de
             contador  no  Minho  e  Trás-os-Montes,     Lamego,   feita   por   Martinho   Anes,
             morador na Rua da Sapateira , e se diz que   carpinteiro,  e  por  sua  mulher  Inês  Pires,
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             fez testamento aprovado em Junho de 1518    moradores na cidade de Lisboa, de todos os
             pelo  tabelião  Martim  Gomes,  sendo  uma   seus  bens  móveis  e  de  raiz,  conforme
             das  testemunhas  João  Mendes,  filho  do   constava no instrumento de doação de
             testador,  o  qual  foi  aberto  a  9.5.1521   10.11.1470.   Ou  já  era  ou  foi  entretanto
                                                                  214
             perante o juiz ordinário de Guimarães Simão
             Rebello,  escudeiro,  estando  presentes  o   210  AMAP, Pergaminhos, 123084; e C-7, fól. 27v.
                                                      211  ANTT, Chancelaria de D. Afonso V, Liv. 29, fól. 188v.
           209   Actual  Rua  da  Rainha,  onde  fica  a  Santa  Casa  da   212   Gonçalo  Afonso  Carvalho,  cavaleiro  da  Casa  de
           Misericórdia  de  Guimarães,  na  freguesia  de  Nossa   D.  Afonso  V  e  contador  de  Entre-Douro-e-Minho
           Senhora da Oliveira. Rui Mendes tinha aí um prazo de   (13.5.1449),  que  foi  procurador  por  Lamego  a  várias
           casas da Colegiada, que em 1576 estava posse de seu   Cortes  e  era  tio-avô  materno  de  Ana  Rodrigues  de
           bisneto Manuel da Cunha da Mesquita, com referência   Carvalho, mulher de Rui Mendes.
           a que tinha sido “do contador velho” (AMAP, Colegiada   213  ANTT, Chancelaria de D. Afonso V, Liv. 30, fól. 91.
           932j, fól. 134v a 136v).                   214  ANTT, Chancelaria de D. Afonso V, Liv. 30, fól. 66.


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