Page 90 - Microsoft Word - Mark.W.Baker-Jesus.o.maior.psicologo.que.ja.existiu[doc-re–
P. 90
P Lembro-me de uma sessão na qual eu estava explicando ao meu terapeuta como a
P
minha infância tinha sido horrível. "Era uma síndrome de 'chutar o cachorro" -
expliquei. "Ele tinha um dia difícil no trabalho, voltava para casa e descarregava a
raiva em cima de nós. Como eu era a pessoa que mais falava na família, bastavam
algum minutos para que ele começasse a gritar comigo por alguma coisa.”
Para enfatizar o que eu estava querendo dizer, descrevi a ocasião em que eu tinha
18 anos e havia secretamente cronometrado o discurso do meu pai a respeito do
comprimento do meu cabelo. "Eu sabia que a coisa ia ser difícil naquele dia, de
modo que fiquei olhando para o meu relógio. Duas horas e meia depois ele ainda
estava gritando comigo, sem que eu tivesse dito uma palavra. Você consegue
acreditar? Duas horas gritando sem nenhuma provocação da minha parte? Nunca
me esquecerei do que o meu terapeuta disse. "Talvez ele tenha amado muito você."
"O quê?", perguntei boquiaberto. "Claro", prosseguiu ele. "Que outro motivo seu pai
teria para gastar toda aquela energia tentando corrigir você? “Não acho que ele
estava brigando com você; ele estava lutando por você da melhor maneira que
sabia.”
Eu nunca tinha pensado naquilo daquele jeito. Lembro-me de ter sentido que o meu
terapeuta tinha entrado em um dos armários mais escuros da minha casa
psicológica e derrubado no chão um monstro com o qual eu não conseguia lidar. Até
aquele momento eu só tinha olhado para a raiva do meu pai de uma determinada
maneira, achando que ele me desvalorizava. Mas talvez ele estivesse zangado
comigo porque queria que minha vida fosse melhor. Do seu jeito desajeitado, talvez
meu pai estivesse tentando fazer com que eu olhasse para coisas que ele
considerava importantes.
A história com o meu pai se repetia todas as vezes que estávamos juntos, porque eu
interpretava a raiva dele exatamente da mesma maneira. O meu terapeuta fez com
que uma janela de oportunidade se abrisse e me ajudasse a romper o ciclo. Depois
desse dia continuei a sentir-me tentado a ter as mesmas antigas discussões com o
meu pai, mas de um jeito um pouco diferente. Como eu me tornara mais consciente
da maneira inconsciente pela qual interpretava a raiva dele como uma rejeição,
comecei a perceber que eu poderia ser capaz de vê-la como uma outra coisa. O
nosso relacionamento não foi magicamente restaurado a partir dali, mas melhorou
bastante.
Jesus sabia que nós não temos que ser condenados a repetir a mesma história, mas
esta se repetirá enquanto não recebermos ajuda dos outros. Precisamos do ponto
de vista dos outros a fim de verdadeiramente compreender a nós mesmos. Podemos
então optar por viver uma vida nova e diferente, porque estamos mais conscientes
das influências inconscientes que estão determinando nossos comportamentos e
nossa vida.
A missão espiritual que guiou a vida de Jesus resultou em benefícios psicológicos
para todos os que tiveram contato com ele. Hoje em dia chamamos isso de
psicoterapia. Na vida de Jesus, era simplesmente sua maneira de ser. As pessoas
tomam consciência de seus mecanismos inconscientes com a ajuda de outra
pessoa. Às vezes, o "homem forte" que precisamos que outra pessoa nos ajude a
amarrar é a nossa parte inconsciente.
PRINCÍPIO ESPIRITUAL: A mudança nos pontos de vista tem o poder de mudar a
história.