Page 135 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 135

– Não queremos ofendê-lo, Sr. Castor – acrescentou Pedro. – Mas
                  está vendo que não somos aqui da terra.

                         –  Compreendo,  compreendo.  Aqui  está  a  prova.  –  E  mostrou-lhes
                  uma coisa branca. Olharam todos admirados, até que Lúcia descobriu:

                         – Ah, é o meu lenço! O lenço que eu dei ao Sr. Tumnus, coitadinho!

                         –  Perfeito!  –  confirmou  o  castor.  –  O  infeliz  soube  da  ordem  de
                  prisão  com  uma  certa  antecedência  e  entregou-me  isso.  Disse-me  então
                  que, se por acaso lhe acontecesse alguma coisa, eu deveria encontrar-me
                  aqui com vocês, para levá-los... – e a voz do castor apagou-se de súbito.
                  Fazendo  sinais  misteriosos,  ele  juntou  as  crianças  num  grupo  apertado  e
                  acrescentou, num leve sussurro:
                         – Dizem que Aslam está a caminho; talvez até já tenha chegado.

                         E  aí  aconteceu  uma  coisa  muito  engraçada.  As  crianças  ainda  não
                  tinham  ouvido  falar  de  Aslam,  mas  no  momento  em  que  o  castor
                  pronunciou esse nome, todos se sentiram diferentes. Talvez isso já tenha
                  acontecido  a  você  em  sonho,  quando  alguém  lhe  diz  qualquer  coisa  que
                  você não entende mas que, no sonho, parece ter um profundo significado –
                  o qual pode transformar o sonho em pesadelo ou em algo maravilhoso, tão
                  maravilhoso que você gostaria de sonhar sempre o mesmo sonho.

                         Foi  o  que  aconteceu.  Ao  ouvirem  o  nome  de  Aslam,  os  meninos
                  sentiram  que dentro deles  algo vibrava intensamente.  Para  Edmundo,  foi
                  uma  sensação  de  horror  e  mistério.  Pedro  sentiu-se  de  repente  cheio  de
                  coragem. Para Susana foi como se um aroma delicioso ou uma linda ária
                  musical  pairasse  no  ar.  Lúcia  sentiu-se  como  quem  acorda  na  primeira
                  manhã de férias ou no princípio da primavera.

                         – E o Sr. Tumnus, onde está ele? – perguntou Lúcia.

                         –  Pssssiu!  Aqui,  não!  Vamos  para  um  lugar  onde  possamos
                  conversar tranqüilamente e comer alguma coisa.
                         Já todos agora confiavam naturalmente no castor, exceto Edmundo, é
                  claro; e todos também, inclusive Edmundo, ficaram contentíssimos com a
                  palavra “comer”.

                         Seguiram apressados atrás do novo amigo, que, dando uns passinhos
                  incrivelmente  rápidos,  foi  guiando  os  quatro  durante  mais  de  uma  hora,
                  pelos recantos mais densos da floresta. Já se sentiam exaustos e famintos
                  quando, de súbito, as árvores começaram a rarear, e eles a descer por uma
                  encosta íngreme. Minutos depois, já sob um céu sem nuvem, onde o sol
                  brilhava ainda, depararam com uma vista maravilhosa. Estavam num vale
                  estreito, no fundo do qual corria (deveria correr, se não estivesse gelado)
                  um  rio  razoavelmente  grande.  Bem  debaixo  do  ponto  em  que  se
   130   131   132   133   134   135   136   137   138   139   140