Page 137 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Chegamos, Sra. Castor – disse o marido. – Chegaram os Filhos e as
                  Filhas de Adão e Eva.

                         Logo  ao  entrar,  a  atenção  de  Lúcia  foi  despertada  por  um  som
                  metálico, e a primeira coisa que viu foi a Sra. Castor, uma velhinha de ar
                  bondoso,  sentada  de  linha  na  boca,  trabalhando  a  valer  na  máquina  de
                  costura. Era de lá que vinha o som. Parou com o trabalho e levantou-se.

                         – Ah, chegaram finalmente! – disse ela, juntando as patas enrugadas.
                  – Finalmente! E pensar que eu ainda iria viver para ver este dia! As batatas
                  estão  cozinhando!  E  a  chaleira  já  está  cantando!  Será  que  o  Sr.  Castor
                  poderia arranjar-nos uns peixinhos?

                         – Já vou – disse o Sr. Castor. Saindo de casa na companhia de Pedro,
                  atravessou  o  lago  até  chegar  a  um  buraquinho  no  gelo,  aberto  à
                  machadinha.
                         Levava um balde na mão. Sentou-se com jeito na beira do buraco,
                  sem ligar para o frio; olhou atentamente lá dentro, enfiou de repente a pata
                  e, num instantinho, agarrou uma linda truta. E assim fez várias vezes, até
                  conseguir o que se chama de uma bela pescaria.

                         Enquanto  isso,  as  meninas  ajudavam  a  Sra.  Castor  a  encher  a
                  chaleira,  arrumar  a  mesa,  cortar  o  pão,  pôr  os  pratos.  Em  um  barril  que
                  havia num dos cantos da cozinha, encheram uma grande caneca de cerveja
                  para o Sr. Castor e, por fim, puseram a frigideira no fogo para aquecer a
                  gordura.  Lúcia  achou  que  os  castores  tinham  uma  casinha  bem
                  aconchegante, mas não lembrava em nada a caverna do Sr. Tumnus. Ali
                  não existiam livros nem quadros pendurados, e, em vez de camas, havia
                  beliches nas paredes, como nos navios. Do teto pendiam presuntos e réstias
                  de  cebola;  encostados  às  paredes  viam-se  botas  de  borracha,  oleados,
                  machados,  tesouras,  pás,  colheres  de  pedreiro,  vasilhas  de  argamassa,
                  caniços de pesca, redes e sacos. A toalha da mesa, embora limpa, era meio
                  grosseira.

                         A frigideira começava a chiar quando Pedro e o Sr. Castor voltaram
                  com os peixes, abertos a canivete e limpos lá fora. Imagine você agora o
                  cheiro  bom  dos  peixes  fritando,  e  como  as  crianças,  azuis  de  fome,
                  esperavam ansiosamente que ficasse tudo pronto, e a fome aumentando a
                  cada segundo!

                         – Está quase prontinho! – disse o Sr. Castor.

                         Susana preparou as batatas, enquanto Lúcia ajudava a Sra. Castor a
                  colocar as trutas na travessa. Cada um puxou o seu banquinho (na casa dos
                  castores só havia banquinhos de três pés, além da cadeira de balanço da
                  Sra. Castor, junto da lareira), prontos para se fartar. Havia um jarro de leite
                  cremoso  para  as  crianças  (o  Sr.  Castor,  fiel  a  seus  princípios,  preferiu
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