Page 207 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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- Qual nada! Não é um fazendeiro. Nem é cavalo de fazendeiro. Não
                  percebe pelo som? Tem classe. E está sendo montado por alguém que sabe
                  mesmo  montar.  Vou  lhe  dizer  o  que  é,  Shasta:  há  um  tarcaã  na  orla  da
                  mata.  Não  está  montado  em  seu  cavalo  de  guerra...  é  muito  ligeiro  para
                  isso. É uma égua de raça, é o que lhe digo.

                        - Agora parou, seja lá o que for.

                        - Certo,  Shasta.  E  por  que  ele  pára  quando  paramos?  Meu  amigo,
                  alguém está nos seguindo, tenho certeza.

                        - Que vamos fazer? - perguntou Shasta num sussurro. - Acha que ele
                  está vendo e ouvindo a gente?
                        - Vamos  ficar  quietos.  Há  uma  nuvem  que  se  aproxima;  vamos
                  esperar  que  a  lua  fique  encoberta.  Depois  ganharemos  a  praia  no  maior
                  silêncio. Na pior das hipóteses, poderemos esconder-nos atrás das dunas.

                        Quando a nuvem ocultou a lua, saíram, primeiro a passo e depois num
                  trote manso.

                        A  nuvem  era  maior  do  que  parecia,  e  a  noite  ficou  bem  escura.
                  Quando Shasta julgou que já estavam perto das dunas, um longo rugido se
                  fez  ouvir  na  escuridão  à  frente,  um  rugido  melancólico  e  selvagem,  que
                  quase  fez  o  coração  do  menino  sair-lhe  pela  boca.  Na  mesma  hora  Bri
                  voltou a galopar para o lado da terra.

                        - Que é isso?

                        - Leões!  -  respondeu  Bri,  sem  mudar  a  passada  ou  virar  a  cabeça.
                  Depois de um estirão, chapinharam dentro de um riacho raso e Bri deu uma
                  parada. Suava e tremia.
                        - A água deve ter confundido o faro da fera suspirou Bri ao recuperar
                  um pouco o fôlego. - Podemos ir andando. Shasta, estou com vergonha de
                  mim.  Estou  tão  apavorado  quanto  um  cavalo  comum  dos  calormanos.
                  Verdade  mesmo.  Não  me  sinto  um  cavalo  falante.  Não  dou  a  menor
                  importância  para  flechas  e  lanças,  mas  não  suporto...  aquelas  criaturas.
                  Acho que vou dar mais um trote.

                        Um  minuto  mais  tarde  galopava  novamente,  pois  o  rugido
                  reaparecera, desta vez à esquerda, vindo da mata.

                        - São dois! - gemeu Bri.

                        Depois  de  galoparem  alguns  minutos  sem  que  houvesse  outros
                  rugidos, Shasta falou:
                        - Aquele outro cavalo está galopando perto de nós.

                        - M... melhor - arquejou Bri. - Tarcaã nele... espada... pro... protege a
                  gente.
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