Page 209 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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manifestava a firme intenção de manter o cavalo em frente. Bri, no entanto,
                  chegou para perto do outro animal, dizendo:

                        - Bru-ru-rá! Pare aí. Não adianta fingir, madame. Ouvi você falar. E
                  uma égua falante, uma égua de Nárnia.

                        - Que  tem  você  com  isso,  se  ela  é  de  Nárnia?  -  disse  o  estranho
                  cavaleiro  com  ferocidade,  agarrando-se  ao  punho  da  espada.  Mas  a  voz
                  revelou a Shasta uma novidade.

                        - Ora, vejam! É uma menina, só uma menina!
                        - E o que tem você com isso, se sou só uma menina? Você é só um
                  menino: um meninozinho maleducado... Na certa um escravo que roubou o
                  cavalo do dono.

                        - Tem certeza? - disse Shasta.

                        - Não se trata de um ladrão, tarcaína - disse Bri. - Se houve roubo,
                  quem roubou o menino fui eu. Quanto a não ter nada com isso, não deveria
                  esperar  que eu  cruzasse  por  uma  dama  de  minha própria  pátria,  em  país
                  estrangeiro, sem lhe dirigir a palavra. Nada mais natural, creio.

                        - Também acho isso muito natural - disse a égua.

                        - Acho que você deve é ficar calada, Huin - disse a menina. - Veja só
                  que trapalhada já arranjou!
                        - Não sei de nenhuma trapalhada - disse Shasta. - Pode sumir a hora
                  que quiser. Não vamos segurar ninguém.

                        - Claro que não.

                        - Como brigam esses humanos! - falou Bri para Huin. - São teimosos
                  como uns burros. Vamos ver se nós dois podemos conversar direito. Será a
                  sua história igual à minha? Apanhada na juventude... anos de escravidão
                  entre os calormanos?
                        - É verdade - respondeu a égua com um relincho.

                        - E talvez agora... a fuga?

                        - Diga  a  esse  sujeito,  Huin,  para  não  meter  o  nariz  onde  não  é
                  chamado - disse a menina.

                        - Eu não, Aravis - falou a égua, botando as orelhas para trás. - Esta
                  fuga é minha também, não apenas sua. Além disso, tenho absoluta certeza
                  de  que  um  nobre  guerreiro,  como  este  cavalo,  será  incapaz  de  trair-nos.
                  Estamos tentando fugir para Nárnia.

                        - Nós  também  -  respondeu  Bri.  -  Já  devia  ter  imaginado  isso.  Um
                  menino em farrapos, montando - ou tentando montar - um cavalo de guerra
                  na  calada  da  noite,  só  poderia  ser  uma  fuga.  E  uma  tarcaína  de  alta
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