Page 358 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 358

desnorteados, compreendemos que afinal não eram atalhos coisa nenhuma.
                  Os  rapazes  e  o  anão,  porém,  muito  acostumados  à  floresta,  só  por
                  momentos se deixavam iludir.

                         Caminhavam havia cerca de meia hora (e três deles ainda tinham o
                  corpo dolorido de remar), quando Trumpkin, de repente, disse baixinho:

                         – Parem! – todos pararam. – Estamos sendo seguidos – continuou,
                  sempre em voz baixa. – Ou melhor, há alguém que nos acompanha ali do
                  lado esquerdo.

                         Ficaram imóveis, esforçando-se para ouvir ou ver qualquer coisa.
                         – É melhor prepararmos as flechas – disse Susana ao anão. Trumpkin
                  fez  com  a  cabeça  um  sinal  de  assentimento  e,  quando  os  dois  estavam
                  prontos, a caravana voltou a marchar.

                         Muito atentos, avançaram uns metros por uma parte da floresta em
                  que as árvores cresciam afastadas. Assim chegaram a um lugar coberto de
                  arbustos  espessos.  Ao  passarem  por  um  maciço,  alguma  coisa  rosnou,
                  precipitando-se  depois  como  um  raio  por  entre  os  ramos  partidos.  Lúcia
                  recebeu  um  esbarrão  e  foi  derrubada.  No  momento  em  que  caía,  ouviu
                  vibrar  uma  seta.  Quando  se  recuperou  do  susto,  viu  um  enorme  urso
                  cinzento, de terrível aspecto, trespassado no dorso pela seta de Trumpkin.

                         –  Desta  vez,  Su,  o  N.C.A.  saiu  vencedor!  –  disse  Pedro,  com  um
                  sorriso amarelo. Porque até ele ficara um tanto abalado com a aventura.

                         –  Atirei  tarde  demais  –  justificou-se  Susana  muito  embaraçada.  –
                  Tive medo que fosse um daqueles ursos... sabe?... um daqueles que falam.

                         A verdade é que ela tinha horror a matar, fosse o que fosse.
                         – Pois aí é que está o problema! – concordou Trumpkin. Os animais,
                  na sua maioria, ficaram mudos e tornaram-se inimigos. Nunca se sabe de
                  que gênero são; se a gente espera, pode ser tarde demais.

                         –  Coitado  do  urso!  –  murmurou  Susana.  –  Acha  que  ele  era  dos
                  maus?

                         – Claro que sim! – disse o anão. – Vi bem o focinho dele e ouvi seu
                  rosnado. O que ele queria era uma garotinha para o café da manhã. E, a
                  propósito,  não  quis  desanimar  Vossas  Majestades,  quando  disseram  há
                  pouco que esperavam que Caspian lhes desse um bom almoço. Mas agora
                  devo dizer que, no acampamento, a carne não costuma ser muito farta. E
                  carne de urso não é nada má! Seria uma vergonha deixar aí a carcaça sem
                  levar um pedaço; isso pode levar no máximo meia hora. Espero que os dois
                  rapazes, quero dizer, reis... saibam como tirar pele de urso...

                         – Melhor a gente ficar longe – disse Susana para Lúcia. – Já estou
                  imaginando que horrível espetáculo vai ser isso.
   353   354   355   356   357   358   359   360   361   362   363