Page 359 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Lúcia concordou, toda arrepiada, e quando se sentaram disse:

                         – Sabe, Su, acaba de me ocorrer uma idéia terrível.

                         – O que foi?

                         –  Não  seria  medonho  se  um  dia,  no  nosso  mundo,  os  homens  se
                  transformassem  por  dentro  em  animais  ferozes,  como  os  daqui,  e
                  continuassem por fora parecendo homens, e a gente assim nunca soubesse
                  distinguir uns dos outros?
                         –  Já  temos  preocupações  que  cheguem  aqui  em  Nárnia  –  disse
                  Susana, sempre muito prática. – Para que inventar ainda outros problemas?

                         Quando foram encontrar com os outros, estes já tinham cortado toda
                  a carne que podiam carregar. Não é lá nada agradável encher os bolsos de
                  carne crua, mas eles se arranjaram como puderam, embrulhando os nacos
                  em folhas verdes. Sabiam já todos por experiência própria que, depois de
                  uma boa caminhada e caindo de fome, seriam capazes de olhar com olhos
                  gordos para aqueles embrulhos moles e repugnantes.

                         Continuaram  a  andar  até  o  sol  nascer.  Os  pássaros  começaram  a
                  cantar e as moscas (mais do que seria de desejar) a zumbir entre as avencas.
                  Pararam junto do primeiro regato que encontraram para lavar três pares de
                  mãos,  que  precisavam  mesmo  ser  lavadas.  À  medida  que  o  cansaço
                  desaparecia, voltava a boa disposição. Quando o sol começou a esquentar,
                  tiraram os elmos da cabeça.

                         – Acho que estamos no caminho certo, não é?

                         – perguntou Edmundo, quase uma hora depois.
                         – Desde que não nos desviemos muito para a esquerda, acho que não
                  haverá  erro  –  declarou  Pedro.  –  E,  se  formos  demais  para  a  direita,  o
                  máximo que pode acontecer é encontrarmos o Grande Rio mais abaixo.

                         Voltaram  a  avançar,  num  silêncio  quebrado  pelos  passos  e  pelo
                  tilintar das cotas de malha.

                         – Afinal onde se meteu esse maldito Veloz? – perguntou Edmundo,
                  depois de grande silêncio.

                         – Já esperava que tivesse aparecido – confessou Pedro. – Mas agora
                  não há remédio: é ir em frente.
                         – Ambos sabiam que o anão estava aflito, embora nada dissesse.

                         Daí a pouco, começaram a achar que as cotas de malha eram pesadas
                  e aumentavam o calor. Pedro exclamou de repente:

                         – Que é isso aqui?!

                         Quase  sem  perceberem,  tinham  chegado  a  um  pequeno  precipício
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