Page 365 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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perto) a deitar-se sobre as avencas. Pedro, que estivera olhando para todos
                  os lados, para ver se descobria um esquilo, viu do que se tratava: uma longa
                  seta,  passando-lhe  por  cima  da  cabeça,  fora  cravar-se  no  tronco  de  uma
                  árvore. No momento em que obrigava Susana a deitar-se e se atirava ele
                  próprio ao chão, outra seta raspou-lhe o ombro e cravou-se na terra.

                         – Depressa! Vamos fugir de rastos! – repetia Trumpkin, ofegante.

                         Voltaram-se  e,  ocultando-se  nas  avencas,  rastejaram  colina  acima,
                  perseguidos  por  verdadeira  nuvem  de  moscardos,  que  zumbiam
                  sinistramente. As setas cruzavam-se em torno. Com uma vibração metálica,
                  uma  foi  bater  no  elmo  de  Susana,  fazendo  ricochete.  Rastejaram  mais
                  depressa, encharcados de suor. Levantaram-se e, quase dobrados em dois,
                  começaram a correr.

                         Era  de  matar...  ter  de  subir  outra  vez  a  encosta  toda,  pelo  mesmo
                  caminho que tinham percorrido. Quando sentiram que mesmo para salvar a
                  vida não conseguiriam dar nem mais um passo, deixaram-se cair ofegantes
                  no  musgo  úmido,  perto  de  uma  cascata,  detrás  de  um  penedo.  Ficaram
                  admirados com a distância que tinham conseguido subir.
                         Nenhum som denunciava que estivessem sendo perseguidos.

                         – Parece que estamos salvos! – disse Trumpkin, respirando fundo. –
                  Devem  ser  sentinelas.  Agora  já  sabemos  que  Miraz  tem  aqui  um  posto
                  avançado. Com trinta mil diabos! A coisa está feia!

                         –  Eu  merecia  ser  esfolado  vivo  por  ter  trazido  vocês  por  este
                  caminho – disse Pedro.

                         – De modo algum, Real Senhor – contrariou o

                         anão. – Até porque foi o seu Real Irmão quem primeiro sugeriu que
                  viéssemos pelo Espelho d’Água.
                         –  O  N.C.A.  tem  razão  –  concordou  Edmundo,  que  se  esquecera
                  completamente disso quando as coisas começaram a correr mal.

                         – Além disso – continuou Trumpkin – , se tivéssemos ido por onde
                  eu  dizia,  o  mais  certo  era  cairmos  direitinho  neste  novo  posto.  Ou  pelo
                  menos  teríamos  encontrado  a  mesma  dificuldade  em  evitá-lo.  Pensando
                  bem, este caminho parece o mais seguro.

                         – Pode ser até uma bênção disfarçada – falou Susana.

                         – Muito bem disfarçada! – exclamou Edmundo.
                         – O jeito agora é voltar e subir o desfiladeiro – disse Lúcia.

                         – Muito bem, Lúcia! – falou Pedro. – Não há maneira mais delicada
                  de dizer: “Eu não falei?”. Vamos.
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