Page 368 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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enorme sombra escura.

                         Se  não  fosse  o  movimento  da  cauda,  poderia  ser  tomado  por  uma
                  estátua.  Lúcia  nem  sequer  pensou  nessa  hipótese.  Nem  um  instante
                  duvidou... Correu para ele. Não podia perder um só momento. Envolveu-
                  lhe o pescoço com os braços, beijando-o, enterrando a cabeça no sedoso
                  pêlo de sua juba.

                         – Aslam! Querido Aslam! – soluçou. – Até que enfim!

                         O grande animal deitou-se de lado, de modo que Lúcia caiu, ficando
                  meio sentada e meio deitada entre as suas patas dianteiras. Ele inclinou-se e
                  com  a  língua tocou o nariz da  menina,  que se  sentiu envolvida pelo seu
                  bafo quente. Ela levantou os olhos e fixou-os no grande rosto sério.
                         – Foi bom ter vindo – disse ele.

                         – Aslam, como você está grande!

                         – É porque você está mais crescida, meu bem.

                         – E você, não?
                         – Eu, não. Mas, à medida que você for crescendo, eu parecerei maior

                  a seus olhos.
                         Lúcia  sentia-se  tão  feliz  que  nem  queria  falar.  Aslam  quebrou  o
                  silêncio.

                         –  Lúcia,  não  podemos  nos  demorar  muito  aqui.  Vocês  têm  uma
                  tarefa a cumprir e hoje já perderam muito tempo.

                         – Que vergonha, não acha? Tinha certeza de que era você. Mas eles
                  não quiseram acreditar... São todos uns...
                         Lá muito de dentro, das próprias entranhas de Aslam, veio qualquer
                  coisa que, vagamente, sugeria um rosnar de impaciência.

                         –  Desculpe!  –  disse  Lúcia,  ao  entender  tudo.  –  Não  queria  pôr  a
                  culpa nos outros. Mas a verdade é que a culpa não foi minha.

                         O Leão fitou-a bem nos olhos.

                         – Oh, Aslam, acha que eu errei? Como é que eu... podia deixar os
                  outros  e  vir  sozinha  encontrar-me  com  você?  Não  olhe  para  mim  desse
                  jeito...  bem...  de  fato...  talvez  eu  pudesse.  Sei  que  com  você  não  estaria
                  sozinha. Mas ia adiantar alguma coisa?

                         Aslam não respondeu.
                         –  Mesmo  assim  teria  sido  melhor?  –  perguntou  Lúcia,  com  a  voz
                  sumida. – Mas como? Aslam, por favor, diga-me.

                         – Dizer o que teria acontecido? Não, a ninguém jamais se diz isso.
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