Page 369 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Oh, que pena! – exclamou Lúcia.

                         –  Mas  todos  podem  descobrir  o  que  vai  acontecer  –  continuou
                  Aslam. – Se voltar agora e acordar os outros para contar-lhes outra vez o
                  que  viu,  e  disser  que  eles  se  levantem  imediatamente  e  me  sigam...  que
                  acontecerá? Só há um modo de saber...

                         – É o que quer que eu faça?

                         – É, minha criança – respondeu Aslam.
                         – E os outros também vão ver... você.

                         – A princípio, não. Talvez mais tarde.

                         – Mas aí eles não vão acreditar!

                         – Não faz mal.
                         – Ora essa, ora essa! E eu que estava tão feliz por tê-lo encontrado de
                  novo. Pensei que ficaria a seu lado. Pensei que você viria rugindo e que os
                  inimigos fugiriam de medo... como da outra vez. Afinal, vai ser horrível.

                         –  Será  difícil  para  você,  querida,  mas  as  coisas  nunca  acontecem
                  duas vezes da mesma maneira. Todos nós já passamos momentos difíceis
                  em Nárnia.

                         Lúcia escondeu o rosto na juba. Mas devia haver nela algum poder
                  mágico,  pois  ela  se  sentiu  invadida  pela  força  do  Leão.  Sentando-se  de
                  repente, disse:

                         – Desculpe, Aslam. Estou pronta.
                         – Agora você é uma leoa – disse ele. – Nárnia inteira será renovada.
                  Venha, não temos tempo a perder.

                         Levantou-se  e  sem  ruído  dirigiu-se  majestosamente  para  o  círculo
                  das árvores dançarinas. Lúcia pousava na juba sua mão trêmula. As árvores
                  afastavam-se para deixá-los passar, assumindo nesse instante a plena forma
                  humana.  Num  relance,  Lúcia  viu  deuses  e  deusas  da  floresta,  altos  e
                  graciosos,  curvando-se  perante  o  Leão.  Daí  a  pouco,  eram  outra  vez
                  árvores, mas curvando-se ainda, com movimentos tão graciosos dos ramos
                  e troncos, que a própria reverência era uma espécie de dança.

                         – Espero por você aqui – disse Aslam, depois de terem ultrapassado
                  as árvores. – Vá acordar os outros: eles devem segui-la. Se não quiserem
                  vir, você pelo menos terá de acompanhar-me.

                         É desagradável ter de acordar quatro pessoas mais velhas, ainda por
                  cima cansadas, para dizer-lhes uma coisa em que provavelmente não irão
                  acreditar, e para convencê-las a fazer aquilo que não querem. Lúcia disse
                  para si mesma: “É melhor nem pensar! Tenho é de ir em frente e aceitar o
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