Page 372 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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de ir; enquanto não formos, não ficaremos sossegados.

                         Estava firmemente decidido a apoiar Lúcia, mas a idéia de perder a
                  noite lhe era incômoda; vingava-se então fazendo tudo com má vontade.

                         – Então, a caminho! – disse Pedro, com um ar cansado, passando o
                  braço pela correia do escudo e colocando o elmo. Em outra circunstância,
                  não deixaria de dizer a Lúcia uma palavra amável, mesmo porque era sua
                  irmã  favorita,  e  sabia  também  que  ela  não  tinha  culpa  do  que  estava
                  acontecendo. Mas, ao mesmo tempo, não podia deixar de sentir-se um tanto
                  aborrecido com ela. Susana foi a pior.

                         –  E  imaginem  se  agora  eu  começasse  a  fazer  a  mesma  coisa  que
                  Lúcia!  Podia  ameaçar  de  ficar  aqui,  mesmo  que  todos  fossem  embora.
                  Acho até que vou fazer isso.
                         –  Obedeça  ao  Grande  Rei,  Real  Senhora,  e  vamos  partir  –  disse
                  Trumpkin. – Já que não me deixam dormir, tanto faz caminhar como ficar
                  aqui conversando.

                         Puseram-se  a  caminho.  Lúcia  ia  à  frente,  mordendo  os  lábios,
                  dominando-se para não dizer a Susana tudo o que pensava dela. Mas, logo
                  que encontrou o olhar de Aslam, foi-se a irritação. Ele avançava uns trinta
                  metros à frente deles. Os outros tinham de guiar-se apenas pelas indicações
                  de  Lúcia,  porque  não  ouviam  nem  viam  Aslam.  Suas  grandes  patas
                  aveludadas pousavam na relva sem o menor barulho.

                         Aslam  levou-os  direitinho  às  árvores  dançantes  (se  dançavam
                  naquele momento é que ninguém sabe, pois Lúcia não tirava os olhos do
                  Leão,  e  os  outros  não  tiravam  os  olhos  dela)  e  seguiu  em  direção  ao
                  desfiladeiro.

                         –  Com  mil  bombas!  –  resmungou  Trumpkin.  –  Espero  que  essa
                  brincadeira toda não vá acabar numa escalada ao luar, com pernas e braços
                  quebrados.

                         Durante  muito  tempo,  Aslam  manteve-se  no  cimo  do  desfiladeiro,
                  mas,  quando  apareceu  um  tufo  de  árvores  à  direita,  virou  para  lá  e
                  desapareceu entre elas. Lúcia teve um sobressalto, pois lhe pareceu que ele
                  sumira no abismo. Não teve muito tempo para pensar. Apressou o passo e
                  desapareceu também no arvoredo. Podia ver agora uma vereda íngreme que
                  se contorcia entre penhascos, conduzindo ao desfiladeiro. Aslam avançava
                  por lá. Lúcia bateu palmas de alegria e começou a descer atrás dele. Ouviu
                  os outros gritarem:
                         – Lúcia! Pare! Espere, pelo amor de Deus! Você está na beirada do
                  abismo! Volte!

                         Daí a pouco era Edmundo que dizia:
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